18 agosto, 2008

A Semiótica Narrativa Dos Objectos De Gideão

ENTENDER A LÍNGUA DE DEUS

O episódio bíblico -histórico de Gideão já originou um importante movimento evangélico à escala mundial. O paradigma foi, sem dúvida, a selecção tendo em vista um determinada tarefa. Os Gideões Internacionais, como são conhecidos, seleccionado! entre as diversas igrejas, desenvolvem, assim, um ministério nobre de espalhar o Livre de Deus em hotéis, escolas, hospitais, etc.

Mas a proposta fundacional daquela personagem do Velho Testamento aprofundo e desencadeia outros pensamentos e outras hermenêuticas. Porventura uma das mais aliciantes abordagens, será no âmbito da semiologia, digamos assim, dos objecto! usados por Gideão.

A BÍBLIA SAGRADA APRESENTA UMA METÁFORA PARA FALAR DA CRIATURA HUMANA COMO UM VASO DE BARRO NAS MÃOS DO OLEIRO.

UM EPISÓDIO DA HISTÓRIA

Ao lermos o texto bíblico que narra a preparação da batalha contra os midianitas, cingimo-nos exclusivamente a que se trata de um episódio de passagem, em que Deus pretende que o seu povo de Israel compreenda que só pode ganhar combates confiando, não na sua força, mas na do seu lavé. Neste âmbito, o livro de Juízes é, de facto, um conjunto de eventos, de repetição de eventos, dando sempre ênfase à estrutura moral e ética da história de uma nação teocrática e na exclusiva dependência do Único Deus. Não devemos, no entanto, ignorar que existe, designadamente no episódio "Gideão, com trezentos homens, vence os midianitas", uma narratividade literária que estrutura o alcance teológico do ensino de Deus ao seu povo, numa circunstância adversa e de crise. Convém colocar em paralelo em todo texto, o assombro da grande literatura, a imaginação, e uma linguagem. Numa palavra, a língua comunicativa dei lavé, o próprio dizer de Deus à conversa com Gideão.

O filósofo e linguista George Steiner justificou nome seu livro "Depois de Babel" a capacidade por parte do homem entender a língua de Deus, no Paraíso, pela existência de uma sintaxe divina, que ao longo da história do relacionamento de Deus com os patriarcas, profetas, sumo-sacerdotes, reis no Velho Testamento, se foi manifestando até à encarnação do Verbo. E assim dos Apóstolos até ao crente mais simples na Igreja de Cristo.

A ESTRATÉGIA DE DEUS

A narração começa por uma frase determinativa, que decorre de uma constatação: "É demais o povo que está contigo, para eu entregar os midianitas nas suas mãos", e quem avalia esta quantidade e os seus reflexos morais no povo é o próprio Senhor, que fala com Gideão (7.2).

O nexo de causalidade desta assertiva, radica na outra afirmação divina, seguinte e dentro da mesma frase: "Israel poderia se gloriar contra mim".

Há aqui, literariamente, uma expressão de intencionalidade. Deus é cioso das Suas Obras e do Seu Poder, por um lado. Por outro, a qualificação que permanece nesta narração é sem dúvida a quantidade de gente que podia levar Israel, no caso de uma vitória, a vangloriar-se em si próprio. Por estas razões, o Senhor inicia o seu conjunto de determinações visando uma estratégia. Como sabemos, esta começou por uma drástica redução dos efectivos para o combate. Deus haja , com certeza, ao contrário dos homens. O número a que Iavé pretendia chegar, não possuía nada de simbólico, tão-pouco de mágico, mas seria um paradigma. O modo como foi conseguido esse número era o mais importante. Primeiro, ao abrigo, de resto, da legislação mosaica (Dt. 20, a lei acerca da guerra), começou por uma dispensa através de uma auto-crítica, uma auto-avaliação do próprio povo, "Quem for tímido e medroso, volte e retire-se da região montanhosa de Gileade." A narração diz ao leitor que se retiraram 22 mil homens.

Foi uma auto-escolha. Todavia a objectividade da narração continua no sentido da intenção divina. A frase: "Ainda há povo demais (dez mil)", sublinha esse aspecto intrigante (de intriga narrativa) da descrição e do seu objectivo moral.

Em seguida, sim, fez-se uma avaliação estrategicamente induzida nos comportamentos dos futuros combatentes. Todos conhecemos o porquê de Gideão fazer descer os homens às águas, a fim de inconscientemente se "auto-escolherem" pela forma como iriam beber das mesmas. "Fá-los descer às águas, e ali tos provarei" - determina o Senhor ( 7.4,5,6). Beber de pé, lambendo a água das mãos, ou de joelhos estabeleceria a diferença e seria o método da destrinça\ distinção.

A frase do culminar descreve finalmente os objectivos divinos: "Com estes trezentos homens que lamberam a água eu vos livrarei e entregarei os midianitas nas tuas mãos". Não eram os melhores, evidenciaram algum medo, demonstraram que tinham pressa. A prontidão e a responsabilidade pelo encargo de lutar eram contudo ideais, curiosamente para certas mentalidades "religiosas" ou espiritualistas, não foram os que se ajoelharam, os escolhidos, mas os que ficaram de pé. Eram os verdadeiros agonistas (do grego agonismós, Independentemente de tais objectos haverem tido uma funcionalidade precisa, ilustrando uma espécie de guerra psicológica engendrada pela estratégia de Gideão (in Comentário Bíblico Moody, Vol. II, pág.55), podemos apreciá-los pelo seu conteúdo espiritual e pelo que podem, idealmente, representar na vida do crente.

CÂNTAROS DE BARRO

A Bíblia Sagrada apresenta uma metáfora para falar da criatura humana como um vaso de barro nas mãos do Oleiro. Nos livros de Isaías e de Jeremias lemos acerca do homem como barro e obra das mãos de Deus, também no plano colectivo como Deus modelou o povo de Israel, usando o exemplo de uma olaria; na epístola aos Romanos, Paulo escreve sobre nós próprios como vasos de barro para honra ou para desonra, na perspectiva de que o oleiro tem direitos sobre o barro. É mais claro ainda um texto determinante desta verdade, que o mesmo apóstolo Paulo recomendou aos crentes de Tessalóníca (4.4), nomeando o corpo como vaso (no grego.skeuos). "Que cada um de vós saiba possuir o próprio vaso (ou corpo) em santificação".

Mas, o vaso de cerâmica (ostrakinos) ou de barro é um continente, vale o que vale o seu conteúdo, metaforicamente. No plano espiritual é um receptáculo, no que concerne ao ego precisa, na perspectiva bíblica, de desistir-se ou partir-se para que resplandeça a Luz interior, como sucedeu com os cântaros ou jarros para água (chamados na Septuaginta ydrias, os ydrías kenàs, jarros vazios) dos homens de Gideão. Muitos séculos depois, já na Igreja Primitiva, Paulo falava de que o conhecimento da glória divina fora entregue, qual tesouro, em vasos de barro (os tais ostrakinois skeuesin) (2 Co 4.6,7) Esta "declaração surpreendente" de Paulo, explica como Deus para dar ao apóstolo o conhecimento da sua glória, lhe iluminou o coração, das trevas fez resplandecer a luz, lhe entregou um tesouro que é o Evangelho.

LÂMPADAS

Iluminar, nos textos bíblicos em paralelo com a experiência histórica, não é apenas fazer claridade na escuridão.

Teologicamente, a iluminação é sobretudo fundadora do reino da Luz contra o reinado das trevas espirituais, assim como no aspecto da vida social e familiar quotidiana desses remotos tempos, a iluminação era conseguida através do fogo, em lâmpadas com azeite.

Na obscuridade, o exército inimigo seria confrontado com luz, o habitual medo do escuro funcionaria nesse episódio dos midianitas versus Gideão ao contrário, a luz repentina das tochas do outro lado iria aterrorizá-los.

Transportando tal experiência para o campo da vivência cristã, dir-se-á que tal episódio também marca a relação do crente com o mundo. Quando Jesus Cristo afirmou "vós sois a luz do mundo", foi mesmo isso que quis dizer, na decorrência da proclamação das Boas Novas que incumbe à mulher e ao homem cristãos. Portanto, o crente não é uma metáfora da luz, ele mesmo é portador dessa luz pelo novo nascimento. Paulo escreve aos Tessalonicenses que "sois filhos da Luz e filhos do dia", e, assim, o Dia do Senhor não apanhará o crente de surpresa.

TROMBETAS DE CHIFRE

O toque das trombetas não foi um som de beleza, um sinal estético, foi um toque por impulso da urgência. A prática do povo com as trombetas de chifre era uma experiência de vitória. Foi um paradigma que não deveria ser mudado. O objecto de osso de carneiro lembrava este com substituto no sacrifício de Isaac.

Shofar, do hebraico, é um instrumento de sopro antiquíssimo, não produz sons delicados. Não é usado por prazer ou divertimento. Gideão usou as trombetas como uma sinalização, para marcar uma presença inesperada no campo da noite. O som poderia ter uma leitura semiótica, do nosso ponto de vista menos do que a leitura do significado do objecto.

Na obscuridade da acção o inimigo seria confrontado com um som e com a representatividade de uma nação, já que a trombeta era um objecto nacional dos israelitas.

A trombeta (shofar) não tem função em serviços; religiosos nos dias de hoje. Contudo, na sua transposição metafórica para a Igreja, digamos que tem um substituto do ponto de vista do que pode simbolizar. Coma experiência no campo espiritual para os cristãos, a trombeta insere-se no plano do testemunho pessoal da crente, da sua nacionalidade e cidadania dos céus, da proclamação do Evangelho e da notícia que Jesus Crista é Redentor. Noutro plano, se quisermos escatológico) o crente é um arauto da mensagem da Parousia, que assinala a próxima Segunda Vinda do Senhor, carnais anuncia o rapto da Igreja

Autor do Artigo

João Tomás Pereira

9 comentários:

Anónimo disse...

Olá irmão Pedro,
Graça e Paz,
Depois do seu contato através do meu blog http://pastoredmundoferreira.blogspot.com, acessei a sua página e quero lhe dar os meus parabéns pelo bonito blog por você idealizado e também pelos excelentes artigos publicados. Fico feliz por conhecer pessoas empenhadas em fazer propagar o nome do Senhor Jesus Cristo ao redor do mundo e creio que o amado é irmão é uma dessas pessoas, peço desculpas pelo fato de eu não ter mais postado ultimamente no meu blog, tendo em vista dispor de pouco tempo nesses dias por causa das provas na Faculdade, Empresa e de algumas viagens, mas logo estarei reiniciando as pastagens para a honra e glória do nome do Senhor Jesus. Desde já quero dizer que o amado irmão pode adicionar o meu blog ao seu, e adicionarei o seu ao meu e divulgarei o seu blog aos meus amigos.
contato msn: ferreira.edy@hotmail.com
Fica na Paz de Deus
Edmundo Ferreira

Anónimo disse...

Paz do Sr. meu querido irmão fiquei muito contente com as palavras que me o irmão me dirigiu.
Irmão já o link muito obrigada por o fazer.
Querido Irmão tomai a liberdade de adicionar o contacto do Irmão no meu Messager para poderes-mos falar esperou que o Irmão não fique chateado.

Anónimo disse...

AUMENTANDO A FÉ
CONSEQUENTEMENTE, A FÉ VEM POR SE OUVIR A MENSAGEM, E A MENSAGEM É OUVIDA MEDIANTE A PALAVRA DE CRISTO.
Romanos 10.17
A maioria das pessoas gostaria de aumentar a sua fé. Normalmente, acreditamos que se virmos algum milagre ou algum prodígio extraordinário teremos mais fé. Será que é verdade? É interessante observar que muitos israelitas que viram o mar Vermelho abrir-se não crê.

Anónimo disse...

Olá meu amigo e irmão,
Graça e Paz...
Obrigado pela visita em meu blog...
É claro que podemos traçar ideias a respeito e já adianto que achei sua pagina bastante interessante...
Meu email: bbastos@terra.com.br
Um grande abraço
BRB

Anónimo disse...

Paz do Sr. meu querido Irmão estou aberto a tuas as ideias que possam levar os nossos blogs a divulgação da palavra de Deus.
Quero agradecer por me ter dado o seu Email e por sua boa vontade de levar estes projectos mais longe possível.

Anónimo disse...

PS: estou incluindo sua página em meu blog, ok?

Anónimo disse...

Quero agradecer pela sua visita ao meu. Achei muito interessantes suas portagens e com certeza vou visitá-lo sempre. Olha, pode divulgar sim o meu blog e todos os artigos postados. Um abraço na Paz de Cristo.

Anónimo disse...

Valeu tb gostei muito do seu blog, que Deus continue te abençoando pq ele tem um conteúdo muito edificante, ja coloquei seu banner no meu blog, para fazermos parceria fique na paz..

Anónimo disse...

Olá, Pedro Aurélio!
Agradeço pela visita ao meu blog e fico feliz que tenha gostado dele. Seu espaço também é muito interessante e os assuntos extremamente relevantes. Fique à vontade para recomendar meu blog visitá-lo quando quiser. Meu e-mail para contato é blogprisma@yahoo.com.br
Um abraço!