08 agosto, 2008

DEVEMOS OU NAO JULGAR?

Todos os cristãos costumam admirar Martinho Lutero, protagonista da Reforma Protestante. Mas quase ninguém deseja que outra pessoa faça o que ele fez. Cabe a nós julgar o c fazem os nossos irmãos, assim como fez Lutero ao questionai falácias romanistas? Podemos julgar, ou o julgamento pertence somente a Deus.

QUALQUER PREGADOR OU ESCRITOR QUE, HOJE, COMBATA O ERRO NÃO É VISTO COM BONS OLHOS.

ENGANA-SE QUEM PENSA QUE PAULO FICARIA HOJE "EM CIMA DO MURO" E NADA DIRIA AOS QUE PROPAGAM DOUTRINAS FALSIFICADAS.

Vivemos numa época em que prevalecem filosofias antibióticas, como o pragmatismo, o relativismo e o utilitarismo mercantilista. A quantidade de pessoas que seguem a um pregador ou a uma igreja é mais importante do que o conteúdo de sua mensagem. As igrejas -modelo são as que possuem mega templos ou grandes catedrais, e não as comprometidas com o evangelho de Cristo. Nesse contexto, se um expoente pregar doutrinas falsificadas, isso não importa, desde que ele reúna multidões.

Qualquer pregador ou escritor que, hoje, combata o erro não é visto com bons olhos. No entanto, o apóstolo Paulo asseverou, inspirado por Deus, que convém imitá-lo, assim como imitava a Cristo (1 Co 11:1). Como o doutor dos gentios lidava com os enganadores, suas doutrinas erradas e suas práticas descabidas?

O doutor dos gentios não se omitia quando via os crentes fazendo coisas erradas. Antes, reagia: "Mas, quando vi que não andavam bem e directamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?" (Gl 2:14). Às vezes, valia-se da ironia para levar os enganados a uma reflexão: "Já estais fartos! Já estais ricos! Sem nós reinais! E prouvera Deus reinásseis para que também nós reinemos convosco!" (1 Co 4:8).

Paulo era enérgico, quando necessário, e até usava expressões que muito , hoje concederiam ofensivas .

Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou para obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de que Jesus Cristo foi já representado como crucificado (Gl 3:1). Já pensou se o doutor dos gentios vivesse nossos dias?!

Engana-se quem pensa que -Paulo ficaria hoje cima do muro" e nada diria aos que propagam doutrina falsificadas. Ele não pensava como muitos mestres pós-modernidade, que agem como se, em suas Bíblia não houvessem listas de pecados (cf. 1 Co 6 Gl 5:19-21; 2 Tm 3:1-5). Pregar contra a a verdade os pecados sexuais, a soberba e todas as ou obras da carne é, para tais mestres da omis: abraçar o que chamam de legalismo.

Paulo, em seu tempo, também disse: quanto àqueles que pareciam ser alguma c< (quais tenham sido noutro tempo, não se dá; Deus não aceita a aparência do homem), esses, d que pareciam ser alguma coisa, nada me comunicar; (Gl 2:6). Da mesma forma, o salvo em Cristo não brigado a dizer "amém" para as heresias e modismo Paulo fazia duras acusações sem mencionar no "Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disso : agora também digo, chorando, que são inimigos da c de Cristo" (Fp 3:18), porém era possível saber de que. estava falando (Tt 1:10-12). E, quando necessário, circunstâncias extremas, o imitador de Cristo cita nomes, como lemos em 2 Timóteo 4:10,14: "Por Demas me desamparou, amando o presente século Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males Senhor lhe pague segundo as suas obras".

Não há dúvidas de que devemos julgar, próximo examinar, investigar, questionar, analisar, descer principalmente nestes últimos dias, em que igrejas d evangélicas apresentam vários desvios do evangelho de Cristo. Esse julgamento nada mais é que um exame perspicaz de todas as coisas sobre o valor delas, realizado pelo crente espiritual, temente a Deus e hábil nas Escrituras.

Jesus condenou o julgamento no sentido de caluniar, assumindo-se o papel de um injusto juiz: "Não julgueis, para que não sejais julgados" (Mt 7:1). Entretanto, Ele também asseverou que temos de nos acautelar dos falsos profetas e apresentou critérios pelos quais podemos julgá-los pelos seus frutos, isto é, discernir as suas ações, prová-las, examiná-las (Mt 7:15-23; Jo 7:24).

O nosso julgamento, pois, dá-se pela Palavra de Deus (At 17:11; Hb 5:12-14), haja vista estar ela acima de instituições, pessoas, anjos, etc. Ninguém está autorizado a ir além do que está escrito na Bíblia (1 Co 4:6). A Palavra do Senhor foi elevada em magnificência pelo próprio Deus, a fim de que ela seja a nossa fonte máxima de autoridade (SI 138:2).

John F. MacArthur Jr. acertou, ao discorrer à luz de 1 Pedro 4:17, sobre o episódio do julgamento de Ananias e Safira: "Com certeza, na Jerusalém do primeiro século havia outros pecadores mais vis do que Ananias e Safira. Herodes, por exemplo. Por que Deus não o fulminou? Na verdade, foi o que Deus fez posteriormente (At 12:18-23). Mas, como escreveu Pedro, 'a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada' (1 Pe 4:17). Deus julga seu próprio povo antes de voltar sua ira aos pagãos" (Com Vergonha do Evangelho, Editora Fiel, p.66).

Esse julgamento deve ocorrer segundo o dom de discernir os espíritos dado às igrejas de Cristo (1 Co 12:10,11; At 13:6-11; 16:1-18). A falta deste dom em algumas igrejas locais faz com que os crentes se conformem com o erro e digam: "Quem sou eu para julgar?" Precisamos julgar tudo com discernimento vindo do alto, bom senso (1 Co 14:33; At 9:10,11) e segundo a Bíblia (2 Tm 3:16,17; 1 Pe 3:15).

Todas e quaisquer palavras e manifestações precisam ser examinadas. A única coisa que dispensa qualquer comentário é a Palavra de Deus, pois é perfeita (SI 19:7), provada (SI 18:30), refinada (2 Sm 22:31) e muito pura (SI 119:140; Pv 30:5).

Muitos fenómenos propagados por "super--pregadores" têm ocorrido também entre muçulmanos, hindus, espíritas de várias ramificações e católicos romanos. De acordo com Deuteronómio 13:1-4, Deus tolera a ocorrência de falsos sinais no meio do seu povo, a fim de provar o nosso amor para com Ele. Fenómenos tidos como milagres divinos não são a evidência de que o Senhor está aprovando a obra de alguém. Por que o Senhor deu testemunho de João Batista, em Mateus 11:1-1? Apesar de João não ter feito sinal algum, tudo quanto disse de Jesus era verdade (Jo 10:41).

O texto de João 14:12 tem sido usado por "super--pregadores" como apoio a todo e qualquer fenómeno. No entanto, a ênfase a "obras maiores" não é uma espécie de brecha na lei que possibilita a realização de qualquer manifestação exótica em nome do Senhor. As obras maiores, na verdade, dizem respeito à quantidade, e não à qualidade delas.

Jesus fez grandes obras, e seus seguidores, posto que ficariam muito tempo na Terra, trariam milhões de obras para o Pai. A Igreja faria, segundo a promessa do Senhor, depois de sua partida, maiores obras, não em seu valor intrínseco, ou em sua glória, mas no objectivo. É até uma falta de temor a Deus e muita presunção querer fazer hoje sinais que nem o Senhor realizou quando andou na Terra.

Em resumo, em João 14:12 o Senhor não dá aval às práticas de milagreiros. Mas enfatiza que os seus discípulos fariam as obras de Deus numa escala mais ampla, enquanto levam a mensagem do evangelho ao mundo todo, tanto a gentios como a judeus (Mc 16:15-20). Essa promessa refere-se, sobretudo, a milhões de almas salvas (Jo 10:16; 11:52; 12:32). É isso que é fazer obras maiores do que as de Jesus, e não fenómenos que confundem o povo de Deus.

Portanto, não devemos desprezar pregações, ensinamentos, profecias, hinos de louvor a Deus, bem como sinais e prodígios (At 17:11a; 2:13; 1 Ts 5:19,20). Porém, cabe a nós provar, examinar se tudo provém do Senhor (At 17:11b; 1 Ts 5:21; Hb 13:9). Em 1 Coríntios 14:29 está escrito: "E falem dois ou três profetas, e os outros julguem". E, em 1 João 4:1, lemos: "Amados, não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo".

Autor do Artigo ,

Ciro Sanches Zibordi

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