17 junho, 2008

PERGUNTA Nº 89

Será bíblico proibir as transfusões de sangue, ao ponto de deixar morrer um filho, como fazem as Testemunhas de Jeová?

RESPOSTA
Não é bíblico, nem humano, nem correcto. A vida física é um bem precioso que Deus nos emprestou e esse empréstimo deverá terminar apenas quando Ele mesmo assim o decidir. Por isso, nós, seres humanos, temos a obrigação de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para salvar uma vida.
Bem sei que acima da vida física deverá estar a salvação da alma, ou seja, a vida espiritual, a qual se consubstanciará na vida eterna! Porém, só poderemos prescindir da primeira quando a segunda for posta em causa; por exemplo, quando nos condenam à morte por sermos crentes em Jesus e só nos absolvem se negarmos a nossa fé. Nessa altura não há dúvidas; mais vale perder a física do que a eterna!
Neste mundo físico e material a vida física é muito importante, estando realmente em segundo lugar, imediatamente a seguir à salvação em Cristo Jesus. Em face disso não devemos, nem podemos, negar quaisquer cuidados, medicamentos ou tratamentos, incluindo o fornecimento de sangue e até de órgãos para que o doente ou ferido continue a viver.
Evidentemente que toda esta ajuda ao deficitário não poderá passar por um grave prejuízo de um terceiro! Não se pode matar uma pessoa para dar vida a outra! Nem sequer extrair-lhe um rim sem a sua autorização, excepto se ele já estiver morto.
As coisas terão de funcionar com ordem e de acordo com os dadores. No caso de uma transfusão de sangue, o dador não será prejudicado e a sua dádiva poderá salvar uma vida física. Além disso ninguém corre o risco de perder a vida eterna, nem proceder a qualquer incumprimento das ordenanças divinas.
As designadas Testemunhas de Jeová afirmam basear-se na Bíblia para impedirem as transformações de sangue, deixando assim morrer os familiares. Isto é o que se chama coar mosquitos e engolir camelos.
Ao deturparem as afirmações escriturísticas, as Testemunhas de Jeová prestam um mau serviço a Deus e à Sua Palavra. Por causa de exageros deste género é que muitas pessoas blasfemam e nem querem nada com a Bíblia.
O Antigo Testamento proibia os hebreus de comerem sangue. Posteriormente, Jesus Cristo esclareceu que não era o que entrava pela boca que contaminava o homem (Mat. 15:11). Aliás, o Novo Testamento coloca os gentios crentes à vontade diante desta situação. Porém, as Testemunhas de Jeová, que não são israelitas nem vivem na Antiguidade, vão muito mais longe ao proibir, não só a ingestão de sangue, mas até mesmo as transfusões(que nada têm a ver com a ingestão) deixando morrer os seus próprios filhos! Esta situação faz-me lembrar os sacrifícios humanos oferecidos aos deuses pagãos; pais que sacrificavam os filhos ao deus Moloque, por exemplo!
A Bíblia não faz qualquer referência à transfusão de sangue, nem nada que se pareça com tal. A transfusão nada tem a ver com a ingestão, mas representa unicamente a mudança de algum sangue de um corpo para outro (sem passar pelo aparelho digestivo) com o fim de socorrer a pessoa deficitária.
Aos israelitas foi-lhes vedado o sangue como alimento e não como socorro. Aliás, num sentido (mais) universal, sabemos que foi o sangue de Jesus que nos socorreu, de modo a não sermos condenados à morte eterna.
Não faz sentido algum a proibição de uma transfusão. Afinal, seria caso para perguntar: Como é que Deus iria proibir uma transfusão de sangue, por exemplo, de uma mãe para o filho se, na verdade, esse filho desenvolveu-se no seu ventre através de uma transfusão contínua, durante nove meses? Sim, de facto a transfusão de sangue está implícita no desenvolvimento do embrião e do feto. E não me venham dizer que se trata do mesmo corpo porque a mãe e o feto são dois seres distintos e com características diferentes.
As transfusões de sangue não contrariam nenhuma das leis da vida. Antes pelo contrário, são apoiadas na própria lei natural.
É verdade que, durante a gravidez, o sangue da mãe e o sangue do filho têm a sua autonomia e características próprias. O coração da mãe e do bebé não batem em sincronismo, um com o outro, as circulações são independentes e o número de glóbulos vermelhos por unidade cúbica de volume é mais elevado no feto do que na mãe. A mãe e o bebé podem até pertencer a grupos sanguíneos diferentes; todavia, todo o sangue do feto é formado à custa do sangue da mãe através da placenta.
Naturalmente que a mãe alimenta o filho com o seu sangue, sem passar pelo aparelho digestivo do feto. Trata-se de uma transfusão semi-directa, através da placenta, onde sofre algumas modificações antes de circular no corpo do feto. Não são transformações consideráveis, que se comparem à função das glândulas mamárias onde o sangue é transformado em leite para alimentar o bebé. Não! Na placenta o sangue continua a ser sangue, embora com algumas características diferentes.
O que se passa com o embrião, futuro bebé, é que por volta do vigésimo primeiro dia tem lugar a ligação da rede vascular intervilosa da placenta com os vasos alontoides que conduzem ao coração do feto, através do cordão umbilical. São estes vasos umbilicais que se encarregam de conter e canalizar o sangue do feto para a mãe e vice-versa.
A placenta assegura a oxigenação e nutrição do feto, segrega hormonas, desempenhando, além dessas e outras funções, o papel de barreira protectora contra agentes que o poderiam prejudicar. Mesmo assim ainda existe a possibilidade de alguns vírus, parasitas, medicamentos e venenos chegarem até ao feto.
Apesar deste sistema de alimentação sanguínea não constituir uma transfusão directa de sangue, observa-se praticamente o mesmo fenómeno com idênticos objectivos, benefícios, perigos e resultados.
As Testemunhas de Jeová passam por cima dos mandamentos mais importantes e deturpam os outros. Um dos dez mandamentos diz para não matar (Ex. 20:13). Será que impedir o socorro a um doente ou sinistrado não é patrocinar a sua morte?
O grande Deus não quer que ninguém morra por falta de auxílio ou socorro. Isso está patente também na Sua Lei. E não é só relativamente aos humanos pois até os animais deveriam ser socorridos (Ex. 23:5).
Não devemos passar de lado diante de um sinistrado, doente ou maltratado como fizeram o levita e o sacerdote na parábola do “Bom Samaritano” que Jesus narrou. Porém, pior do que passar de lado relativamente a um ferido (ou doente) é impedir que se lhe preste o devido socorro.
Atitudes de pessoas e de grupos religiosos que interpretam mal a Bíblia são os grandes causadores de que muitos blasfemem. Esses fanáticos no acessório e faltosos no essencial são os tais que não entram (na vida eterna) nem deixam os outros entrar! Bem, proibir as transfusões de sangue não é atender ao essencial nem mesmo ao acessório; é um erro absurdo e anti-bíblico! Consiste na deturpação das Escrituras a qual conduz a um prática anti-bíblica.
Há vários anos atrás, aconselhei alguém que veio à frente para se entregar ao Senhor Jesus. Uma das primeiras perguntas que me fez foi a seguinte: “Posso comer sangue ou não?” Eu respondi: “A Bíblia diz para comer de tudo o que se vende no açougue... e o que puserem à nossa frente, como refere o apóstolo Paulo em I aos Coríntios “10:25,27”. Porém, a pessoa voltou à carga, perguntando: “Mas diga-me: O senhor come sangue ou não?” Respondi: “Nunca gostei de sangue, o qual causou-me sempre muita impressão. Agora, se o senhor gosta... coma!”
Passados, talvez dez anos ou mais, este cristão deu testemunho numa determinada congregação, falando desta situação. Garantiu que, caso eu lhe tivesse dito para não comer sangue ter-se-ia ido embora e nunca mais lá apareceria, mas assim ficou e hoje não come sangue porque acha melhor assim. Acrescentou ter sentido que eu fora usado por Deus para responder daquela maneira.
Há coisas muito importantes a considerar e nós temos que ler a Bíblia, orar a Deus, meditar e deixar que Deus fale connosco. Não podemos impor tudo aos outros, de modo a afastá-los de vez dos caminhos do Senhor. Infelizmente, para agravar certos aspectos, que inicialmente as pessoas não compreendem, ainda há quem extravase a situação, querendo, não só aplicar aos gentios actuais tudo o que foi dito aos israelitas antigos, mas até interpretar uma transfusão como uma ingestão!
A existência da tradução (deturpação) “Novo Mundo” é uma prova de que as Testemunhas de Jeová pretendiam que a Bíblia dissesse outra coisa diferente do que ela diz. Nessa “tradução” muitos versículos foram adulterados, às vezes trocando somente a ordem das palavras e, logicamente, o sentido da frase que é esse o seu principal objectivo. Quanto às transfusões... é mais um assunto onde as Testemunhas de Jeová foram longe de mais!

Autor do texto bíblico

Agostinho Soares

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