10 junho, 2008

PERGUNTA Nº 133

Já há muito anos que ando apreensiva por algo que me possa acontecer. Todos temos que morrer e um dia a morte baterá à nossa porta. Como não sabemos qual o dia nem a hora da nossa partida, eu estou sempre a pensar que poderá ser agora, neste momento. Não consigo andar normalmente, desafogada, livre, como quando era pequena. Como é que que posso resolver esta situação?

RESPOSTA
Conta-se que que um determinado turista resolveu conhecer Paris à noite. O táxi em que viajava percorreu as principais artérias, regressando ao hotel quase pela manhã. Depois, quando um amigo lhe perguntou se a cidade era bonita à noite, ele respondeu: “Não sei. Não vi coisa alguma da cidade. Durante o percurso não tirei os olhos do taxímetro... preocupado com a conta que ia aumentando... e que eu teria de pagar!”
Todos nós poderemos rir com esta história, mas a verdade é que algumas pessoas estão a proceder da mesma maneira. Não tiram os olhos do “taxímetro da morte”, de tal modo que não apreciam a paisagem da vida! Que vamos dizer no fim da nossa “viagem”?
A vida é uma aventura maravilhosa, digna de ser vivida até ao limite. Foi Deus que no-la emprestou e será Ele que a recolherá. Deixemos isso ao Seu cuidado, tanto no que se refere ao dia e hora como ao processo utilizado. A nossa obrigação é fazer todo o possível por preservarmos a nossa vida física sem, contudo, prejudicar as outras vidas e as outras pessoas.
Quando digo que a vida deve ser vivida até ao limite, refiro-me à duração e não à exaustão. É que não faz sentido abreviar a existência através de um processo de desgaste com esforços exagerados e continuados, seja em trabalhos pesados com o intuito de enriquecer, seja em prazeres e diversões com o objectivo de extraír o maior rendimento do corpo físico. É importante a qualidade de vida e esta passa pela moderação e obediência às ordenanças divinas.
Não devemos acelerar a nossa partida nem preocuparmo-nos em demasia com a mesma. Nada de extremismos. Deixar livremente fluir o tempo e viver até quando Deus quiser. É nosso dever defender a vida, querer viver, porque assim ordena o Criador, mas nada de andar superpreocupado ou aterrorizado a olhar muito para o “taxímetro” da contagem decrescente.
O livro “Grandes Erros” conta a história de uma senhora que esteve 40 anos numa cama convencida que tinha gripe. O médico disse para ela se deitar e que depois passaria pela sua casa. Como o médico se esqueceu (e depois parece que até morreu) a senhora ficou 40 anos à espera dele. Ao fim desse tempo levantou-se e voltou a fazer uma vida normal, depois de ter sido convencida por um outro médico de que não estava doente!
Ora, a vida não é assim tão longa para que se possa perder 40 anos seguidos na cama com saúde! Uma cisma ou preocupação exagerada pode roubar-nos a qualidade de vida! E o facto de nos afligirmos com a perspectiva da morte não vai conceder-nos mais anos de vida. Antes pelo contrário!
Um certo dia, Luis XIV de França mandou chamar um mago famoso e perguntou-lhe se não haveria um produto, um elixir que lhe prolongasse a vida por muitos anos. O mago respondeu: “Vossa majestade não precisa de viver muito tempo; o que precisa é de viver bem!”
Ora, viver bem, passa pela exclusão de preocupações deste género. Preocupemo-nos com Aquele que nos livra das preocupações. Optemos por Quem nos dá o direito de opção.
É bom ter vida e possuir um corpo físico para poder realizar algo em prol dos outros. É triste que um dia o nosso corpo tombe à sepultura mas, quanto a isso, nada há a fazer. Aquilo que não tem solução... já está solucionado ou, pelo menos, arrumado. Porém, quanto à vida espiritual... muito há a fazer. E esta vida física pode ser bem aproveitada para nos encaminharmos para a outra, a espiritual, que se transformará em eterna na altura da nossa partida!
Aproveitemos esta vida (física) para melhorar a outra (espiritual) e para ajudar outras pessoas a encontrá-la e a manterem-se com ela. Façamos algo no bom sentido, utilizando este corpo que Deus nos emprestou. Como dizia um velho escritor americano: “Tenha vergonha de morrer sem ter feito nada de bom para a Humanidade”.
Custa-nos imaginar o sepultamento? Deitarem terra por cima de nós? Certamente que sim! Mete-nos impressão. Se estivermos vivos, isso aflige-nos; porém se já tivermos saído deste tabernáculo é como sepultar umas roupas velhas que nós despimos!
A mim não me custa muito imaginar o sepultamento das minhas roupas, desde que eu haja saído das mesmas antes disso. Agora, sepultar as minhas roupas... comigo lá dentro... custa muito! Sepultar o meu corpo (que é como uma roupa) depois de eu ter saído para o Céu... já não custa!
Se vamos sepultar memórias, faculdades e potencialidades é porque Deus tem algo mais importante e muito melhor para nós! Deus teve o cuidado de criar as pessoas e as coisas com toda esta beleza e funcionalidade, às vezes, para durar relativamente muito pouco tempo! Agora, quanto à eternidade... então as coisas serão ainda melhores! Porém, para as recebermos é necessário deixar estas que possuímos agora. Não podemos vestir tudo por cima, sem tirar nada, como alguns rapazes faziam em África! Mudar de casa é bom, desde que seja para melhor!
É bom estar com Cristo na eternidade e é bom viver com Ele no coração, aqui na Terra. Um crente salvo quer partir e quer ficar, isto é, quer que seja feita a vontade do Senhor. O apóstolo Paulo, a certa altura estava num dilema, conforme escreveu: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei, então, o que deva escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne” (Fil. 1: 21-24).

Autor do Artigo;
Agostinho Soares

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