04 junho, 2008

PERGUNTA Nº 110

Por ser um homem nascido no século XX, sempre me preocupou a coexistência dos católicos, evangélicos e adventistas... sei que a diferença entre católicos e evangélicos é que um lado pratica a idolatria e demais preceitos humanos e o outro rejeita tudo o que não se fundamenta nas Sagradas Escrituras. Outrossim, a diferença entre evangélicos e adventistas é que estes falam da perpetuidade da Lei de Deus enquanto aqueles (evangélicos) não. Gostava de saber, pelas Sagradas Escrituras, se a razão está do lado Evangélico ou do lado Adventista. Estarei eu em melhor posição se guardar toda a Lei (observando o sábado) e seguidamente comemorar o domingo como dia da ressurreição como temos vindo a comemorar o Natal? (Miguel Domingos – Angola).

RESPOSTA
Em Novas de Alegria de Setembro de 1998 eu desenvolvi um tema sobre a observância do sábado e o surgimento do Adventismo. Agora, porém, irei acrescentar mais alguns elementos de importância vital.
Antes de prosseguir, gostaria de dizer que, posteriormente à publicação do meu artigo em “N.A.” recebi mais informações e explicações sobre a matéria em causa, fornecida por pessoas ligadas à Igreja Adventista. Aproveito para agradecer a esses nossos amigos o material que tão simpaticamente me enviaram. Louvo a educação e as palavras amáveis que me dirigiram, embora discordando dos meus pontos de vista.
A guarda do sábado não constitui um mandamento para o cristão, que foi liberto pelo Senhor Jesus Cristo. É importante guardar um dia de descanso semanal mas não ficar fanaticamente preso a este ou aquele dia como se daí dependesse a nossa salvação. Diz a Bíblia: “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da Lua nova ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é Cristo” (Col. 2:16,17).
O sábado representa a Lei dada a Moisés, enquanto o domingo representa a Graça concedida por Jesus. O Senhor Jesus Cristo ressuscitou no domingo (Mar. 16:9) e os primeiros cultos cristãos realizaram-se também nesse dia (João 20:1, 19, 20).
A prática de realizar cultos ao domingo continuou sem ser imposta nem contrariada por Deus, pelos apóstolos ou demais servidores do Evangelho. Ainda hoje nenhum ramo do Cristianismo impõe a guarda do domingo como condição para a salvação. O Cristianismo é uma religião de liberdade no Espírito e não um conjunto de regras ou ritos. Identificamo-nos com Cristo, o nosso Salvador, e não com dias festivos nem a guarda dos mesmo. Estamos livres para seguir e servir o Senhor e não ficar preso por qualquer artimanha diabólica.
Fomos libertos por Jesus Cristo e Ele é muito mais importante do que o sábado! Aliás, até mesmo nós, seres humanos, somos mais importantes do que esse dia, como Jesus referiu, do seguinte modo: “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Mar. 2:27).
Uma vez que a Lei não foi respeitada pelo Seu povo, o Senhor Deus disse que iria fazer cessar as suas festas, e as suas Luas novas e os seus sábados (Oseias 2:11). Assim, o desaparecimento do sábado como imposição legal estava previsto, dando lugar a um novo Concerto ou um novo Pacto (Jer. 31:31).
É verdade que o Novo Testamento reforça o Antigo Testamento em quase todos os assuntos. Exceptuam-se os aspectos simbólicos e transitórios do passado, como sejam os holocaustos, sacrifícios e o cordeiro pascal que simbolizavam o posterior sacrifício de Jesus, o Cordeiro de Deus, em nosso lugar. Naturalmente que o sábado e a Lua Nova também são sombras das coisas futuras (Col. 2:17) e não repetidas nem reforçadas.
Assim, o Novo Testamento repete, pelo menos:
50 vezes o dever de adorar só a Deus;
12 vezes a advertência contra a idolatria;
12 vezes a advertência contra o adultério;
9 vezes a advertência contra a cobiça;
6 vezes a advertência contra o furto;
6 vezes a advertência contra o homicídio;
6 vezes o dever do filho honrar o pai;
4 vezes a advertência contra o falso testemunho;
4 vezes para não usar o nome de Deus em vão;
0 (zero) vezes para guardar o sábado!

Por muito simpáticos que sejam os adventistas tenho de lhes dizer que o 4º mandamento (guarda do sábado) não é reforçado no Novo Testamento, ao contrário dos outros nove. E, sinceramente, eu não acredito, de modo algum, que tenha sido por esquecimento! Deus, que é o Autor da Bíblia, havendo inspirado os Seus servos para escrever a mesma, não Se esquece de coisa alguma!
Alguém poderá perguntar: Mas, afinal, Deus mudou? Não! As nossas condições é que mudaram! Estávamos perdidos e Jesus veio salvar-nos! Estávamos debaixo da Lei e Jesus veio colocar-nos debaixo da Graça! Não me digam que ficou tudo na mesma! E se a nossa condição de perdidos pecadores, debaixo da Lei, mudou, ninguém me convence que o símbolo dessa mesma Lei (o sábado) não podia mudar também!
A vinda de Jesus trouxe grandes alterações. Por exemplo, as orações a Deus passaram a ser feitas no Nome de Jesus, o que até então era desconhecido! Aliás, o sábado não nos identificava com Deus mas com a Lei de Deus que foi substituída pela Graça de Deus.
Se olharmos para os Dez Mandamentos e fizermos uma análise humana, com todas as nossas deficiências de interpretação, concluímos que nove deles revelam a essência Divina, a natureza e a santidade de Deus. Logo, destes nove mandamentos, nenhum deles poderia ser modificado porque Deus não muda.
Quanto ao 4º mandamento, que se refere à guarda de um determinado dia (sábado) o mesmo não diz respeito à essência de Deus nem à Sua maneira de ser. Poder-se-ia substituir esse dia por outro ou anulá-lo? Sim... realmente... dos Dez Mandamentos apenas o 4º poderia sofrer alteração e Deus continuar a ser o mesmo! Só este 4º mandamento não é vinculativo à essência e santidade de Deus!
Esta é apenas uma análise humana e pessoal. E apesar de o cristão não ter a imposição legal de guardar um dia específico, devo dizer que para mim o domingo de Jesus significa mais do que o sábado da Lei. A Lei não salvou ninguém, enquanto o Senhor Jesus Cristo veio buscar e salvar o que se havia perdido.
Para mim é mais importante o domingo da Graça do que o sábado da Lei. E não só para mim, mas para os cristãos primitivos que começaram a reunir-se ao domingo. Aliás, o domingo é considerado o “Dia do Senhor”!
Como o 4º mandamento (guardar o sábado) não se encontra repetido no Novo Testamento, certamente que alguém iria ressuscitá-lo e engrandecê-lo de modo a ultrapassar todos os outros. Isso aconteceu com Hellen White, grande impulsionadora e quase fundadora do Adventismo. Dizia Hellen White que teve uma visão da Arca do Concerto com as tábuas da Lei, olhou para dentro da mesma e viu o 4º mandamento em destaque ao centro e com uma auréola de luz!
Bem, de facto é necesário haver “revelações” e “visões” muito especiais para se realçar o acessório e omitir o essencial. Curiosamente, Hellen White conseguiu olhar para dentro da Arca e não morrer, ao contrário do que acontecia com todas as pessoas. Recordemos que só de uma vez, em Bete-Semes, o Senhor tirou a vida a 50 070 homens que olharam para dentro da Arca (I Samuel 6:19). No caso de Hellen White, a mesma não morreu porque era apenas uma “visão”, sem efeitos reais, embora ela tomasse o assunto muito a sério e divulgasse a guarda do sábado. Evidentemente que essa “visão” poderia ter uma outra origem.
Isto de se agarrar a coisas que já estão ultrapassadas por outras melhores, a fim de confundir as pessoas, faz-me lembrar certas situações de dissidentes que vão aproveitar antigas casas de oração a ver se conseguem enganar alguns crentes que já por ali andaram, quando não havia casa melhor.
Não há motivo algum para se ficar agarrado ao sábado como se ele resolvesse alguma coisa. Os fariseus já faziam isso no tempo em que o Senhor Jesus andou por este mundo! O Príncipe da Vida não estava fanaticamnte preso ao sábado; antes curou muitos doentes nesse dia. E por causa disso condenaram-No à morte!
Há uma passagem muito curiosa no Evangelho segundo S. Marcos, capítulo 3, versículos de 1 a 6. Os judeus já estavam a ver se Jesus curava o doente no dia de sábado para O acusarem. Jesus sabia que, por causa da cura, eles decidiriam matá-Lo. Por isso perguntou: “É lícito no sábado fazer bem ou fazer mal? Salvar a vida ou matar? E eles calaram-se”. Depois da cura divina os judeus decidiram, nesse mesmo sábado, a Sua condenação por não respeitar o sábado. Para eles não se podia fazer bem (curar) no sábado mas fazer mal (matar) já era aceitável!
Jesus tinha autoridade sobre o sábado, para cumpri-lo, aboli-lo ou mudá-lo. Ele afirmou: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (João 5:17). E por essa razão “os judeus ainda mais procuravam matá-Lo porque não só quebrantava o sábado, mas também dizia que Deus era Seu próprio Pai, fazendo-Se igual a Deus” (João 5:18).
Constitui um grave erro escudar-se com o cumprimento da Lei, pois é muito fácil errar em qualquer pormenor. Diz Tiago: “Porque qualquer que guardar toda a Lei e tropeçar num só ponto, tornou-se culpado de todos” (Tiago 2:10). Diz também o apóstolo Paulo: “Por isso nenhuma carne será justificada diante d’Ele pelas obras da Lei, porque pela Lei vem o conhecimento do pecado. Mas agora se manifestou a justiça de Deus, tendo o testemunho da Lei e dos profetas” (Rom. 3:20,21).
O sábado representa a Lei e o domingo a Graça redentora de Jesus. Eu identifico-me com Jesus Cristo, meu Salvador, que me libertou, não só da Lei mas da guarda de dias festivos, Luas Novas, sábados e outros dias. E... sinceramente... se um crente começa a guardar dias, meses e anos deverá voltar a ler a Epístola aos Gálatas que diz assim: “Mas agora, conhecendo Deus ou antes, sendo conhecidos de Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Guardais dias, e meses, e tempos e anos. Receio de vós que haja eu trabalhado em vão para convosco” (Gal. 4:9-11).
Autor do Artigo;
Agostinho Soares

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