04 junho, 2008

PERGUNTA Nº 109

Durante muito tempo, e antes de conhecer a Palavra de Deus, eu pensei que todos éramos filhos de Deus, pelo facto de sermos criados à Sua imagem e conforme a Sua semelhança. Depois, quando tive contacto com a Palavra de Deus foi-me penoso entender que apenas eram filhos de Deus os que aceitavam a Pessoa de Cristo como Salvador. Recentemente li em Actos dos Apóstolos que todos somos geração de Deus e fiquei baralhada. Afinal, somos todos filhos de Deus ou não? (Inês Sampaio)

RESPOSTA
Aqui na Terra e a nível humano, os filhos identificam-se com os pais através de características físicas. Poderão constestar algumas idéias dos seus progenitores, como acontece várias vezes, mas há sempre traços fisionómicos que os identificam; uma contextura anatómica que evidencia a filiação. Em caso de dúvidas, poder-se-á ainda recorrer a análises genéticas para se obter uma identificação mais concreta.
Certamente que a nível espiritual as coisas passam-se de um modo diferente. Para se identificar a filiação ou paternidade não há análises genéticas nem anatómicas a considerar. Enquanto no mundo físico a análise é física, no mundo espiritual a análise terá de ser espiritual. Sim, também no mundo espiritual há traços ou características espirituais que nos unem ao nosso Pai Celestial e nos identificam com Ele. Aliás, a Bíblia é clara, quando refere: “Pelos frutos os conhecereis” (Mat. 7:16).
Infelizmente, muitas pessoas afirmam-se filhas de Deus mas não O conhecem, não têm comunhão com Ele, não fazem o que Ele ordena nem estão interessadas em conhecê-Lo. Não se identificam com Deus em coisa alguma, não estão do Seu lado, não Lhe obedecem nem têm prazer em alegrá-Lo, fazendo a Sua vontade.
Concordamos que até a nível físico e terreno esta atitude constitui um manifesto paradoxo. Por exemplo, algum jovem que tenha saído da casa do pai, nunca mais quisesse saber dele e andasse a gabar-se a toda a gente que era filho daquele homem! Se até a nível físico e terreno este procedimento é incoerente, quanto mais a nível espiritual onde as coisas são avaliadas com muito maior sensibilidade!
O Senhor Jesus Cristo, o Emanuel (Deus connosco) disse: “Vós sereis meus amigos se fizerdes o que eu vos mando” (João 15:14). E noutra passagem, interrogou as pessoas: “Por que me chamais: Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?” (Luc. 6:46)
Naturalmente que os seres humanos estão muito ligados aos laços familiares, ao parentesco terreno, mas a nível espiritual as coisas funcionam de outra maneira. Um dia disseram ao Senhor Jesus: “Eis que estão ali fora Tua mãe e Teus irmãos, que querem falar-Te” (Mat. 12:47). Porém, Jesus apelou mais para os laços espirituais do que para os carnais. Estendendo a mão para os discípulos, disse: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos; porque, qualquer que fizer a vontade do meu Pai, que está nos Céus, esse é meu irmão, e irmã e mãe” (Mat. 12: 49,50). Portanto, uma outra família, com laços mais profundos e que continuará para toda a eternidade!
Os laços físicos e sanguíneos têm a sua importância relativa aqui na Terra. Reconhecemos a função dos pais terrenos que nos transmitiram a vida física, assim como o Criador que criou o primeiro casal. Porém, a nível espiritual e eterno as coisas são avaliadas de um modo espiritual e mais duradoiro. A filiação e a paternidade espiritual processam-se a outro nível!
Jesus Cristo é o Filho de Deus, legítimo e unigénito.Mas Ele veio a este mundo para salvar aqueles que se arrependerem dos seus pecados e se converterem a Deus, aceitando o plano divino de salvação. Depois de aceitarem o Salvador, as pessoas passarão a ser filhos de Deus por adopção. E Deus já havia previsto que muitos humanos iriam aceitar o Seu plano e tornarem-se “filhos de adopção por Jesus Cristo, para Si mesmo, segundo o beneplácito da Sua vontade” (Ef. 1:5).
Criaturas de Deus são todos os seres celestiais, humanos e até os animais. Porém, os filhos são somente aqueles homens e mulheres que fazem a vontade do Pai Celestial. O verdadeiro e unigénito Filho de Deus, que veio consumar um plano divino de salvação e adopção, esclareceu perfeitamente quem eram os Seus irmãos e irmãs. Logicamente, quem não for irmão do Filho de Deus também não é filho de Deus!
Inicialmente, a prezada irmã estava convencida de que era uma filha de Deus, aliás, como quase todos nós antes de conhecermos o verdadeiro Evangelho. Depois, quando teve contacto com a Palavra de Deus verificou, com um certo desalento, que apenas eram filhos os que aceitavam Jesus Cristo como Salvador. Pois verificou muito bem! É exactamente isso que diz o Senhor na Sua Palavra. Ora, a Bíblia não diz o que nós queremos saber ou gostamos de ouvir mas aquilo que nós precisamos de saber.
Recentemente a irmã leu em Actos dos Apóstolos que somos geração de Deus e ficou baralhada. Ora, nessa passagem que se refere ao areópago de Atenas (Actos 17) o apóstolo Paulo faz referência aos poetas gregos; neste caso específico a Aratos de Soli, Silícia (terra de Paulo) que havia vivido no ano 300 a. C. e escrevera no seu poema “Fenomenos” o seguinte: “Dele, de facto, somos progénie”. Ora, “progénie” significa procedência, origem, linhagem e geração. E é verdade que somos procedentes de Deus, temos origem no Senhor e somos linhagem e geração do primeiro casal criado por Deus. Estamos ligados a Deus pela Criação mas a filiação é algo mais íntimo e mais sensível.
A condição de filhos de Deus está reservada somente aqueles seres humanos que se identificam com o Pai, fazendo a Sua vontade e aceitando o Salvador que Ele enviou. Até mesmo os anjos, também criados por Deus, não chegam a essa condição de filhos! Muito embora haja uma passagem bíblica no livro de Job que designa os anjos por filhos de Deus, o Novo Testamento é muito claro quanto a esta elevada posição.
Há duas maneiras de considerar as coisas, embora uma delas seja errada. A linhagem humana (física) e a via espirital. Ora, os judeus constituíam um povo especial pois não descendiam apenas de Adão e Eva mas de Abraão, o homem das promessas. No entanto, Jesus disse-lhes: “Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; por isso, vós não as escutais, porque não sois de Deus” (João 8:47).
Quem são os filhos de Deus? O apóstolo Paulo responde a esta questão do seguinte modo: “Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus” (Rom.8:14). Para os crentes, salvos e purificados pelo sangue de Jesus, escreve o apóstolo Pedro: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a Sua grande misericódia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (I Pedro 1:3).
Naturalmente, gerados de novo, somos novas criaturas, nascidos de novo para Deus. Então, as coisas velhas já passaram; deixamos de ser apenas criaturas pecaminosas mas despertamos para Deus, através de uma renovação espiritual. A partir daí não vivemos mais para nós mas para Aquele que nos amou.
Já na condiçao de filhos de Deus temos muitos privilégios mas também responsabilidades. Diz Paulo: “Para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus culpáveis no meio duma geração corrompida e preversa, entre a qual resplandeceis como astros do mundo” (Fil. 2:15).
Autor do Artigo;
Agostinho Soares

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