04 junho, 2008

Pergunta Nº 108

Segundo a Bíblia, o Diabo foi o culpado de todo o mal que sobreveio a Jó. É verdade que Deus deu o Seu consentimento para provar que ainda tem homens sinceros e tementes que O seguem e respeitam no meio das dificuldades. Porém, o Diabo foi o instigador daqueles malefícios. Então, coloca-se a questão: Será razoável que no final de todo aquele sofrimento Jó ficasse sem uma explicação, sem um pedido de desculpas e sem agradecimento pelo facto de, mesmo assim, manter a sua sinceridade?

RESPOSTA:
Para haver um pedido de desculpas seria necessário alguém que o fizesse. Quem o deveria fazer? Deus ou o Diabo? Sim, o Diabo que provocou o mal, ou Deus que o consentiu?
Como sabemos, o Diabo não tem por hábito pedir desculpas a ninguém pelo mal que pratica. A função que ele desempenha, por sua livre iniciativa, é fazer mal, o pior que puder, prejudicar a Obra de Deus e, consequentemente, o ser humano. Se algum dia o Diabo (ou os seus seguidores) pedir desculpa por alguma coisa... é preciso muito cuidado porque, certamente, estará a preparar algo muito pior do que realizou da primeira vez!
Quanto ao Senhor Nosso Deus... não pede desculpa a ninguém nem agradece coisa alguma. Não pede desculpa porque nunca comete erros ou enganos. Nada agradece porque todas as coisas e pessoas Lhe pertencem. Ele é o Criador de tudo e continua como Senhor, embora muitos não O reconheçam como tal.
Como não podia deixar de ser, o Senhor Jesus também nunca pediu desculpa nem agradeceu coisa alguma. Ele é Deus, a Segunda Pessoa da Trindade Divina e não fazia sentido que enveredasse por um destes dois caminhos. Caso contrário isso induziria em erro muitos seres humanos. Com a tendência que há para reduzir a glória de Jesus, não faltaria quem dissesse que Ele não seria Deus e até não tivesse qualquer poder.
Aqui na Terra, em muitos casos, quase não faz sentido o pedido de desculpas nem os agradecimentos. Evidentemente que devemos ser educados; porém, que essas atitudes correspondam aos sentimentos do nosso coração.
Conheço adolescentes que pedem desculpa ao professor por algo de errado que fizeram naquele momento, mas continuam a fazer o mesmo exactamente no momento seguinte. Relativamente ao agradecimento, lembro-me de uma secção da Legião Portuguesa em Massarelos (Porto) que concedia muitos louvores aos funcionários. Vim depois a saber que aquilo representava a maneira mais económica de resolver a situação. Em lugar de promoções ou aumentos salariais a antiga “Legião Portuguesa” afixava louvores nos seus vitrais!
O nosso Deus não faz assim. Ele ajuda, recompensa, modifica a nossa vida e acaba com o certos sofrimentos. Não agradece com palavras mas recompensa com coisas (bênçãos).
No livro de Jó nós lemos que na terra de Uz havia um homem sincero, recto e temente a Deus (Jó 1:1). E ao contrário do que seria de esperar, este homem era rico e maior do que todos os do Oriente (Jo 1:3). Por aqui se vê que Deus não faz acepção de pessoas. Ser rico ou ser pobre não constitui obstáculo algum para andar nos caminhos do Senhor.
Deus tinha prazer em ter um servo sincero e recto como Jó. Porém, o Diabo dizia que Jó era fiel porque nada lhe faltava. Por isso desafiou Deus a tirar-lhe tudo o que ele tinha. Deus anuiu mas com reservas ou limites para que o inimigo das nossas almas não provocasse danos irreparáveis.
Mesmo sem bens materiais e sem filhos Jó manteve a sua sinceridade. O Diabo ainda fez referência a sua saúde e Deus permitiu que a mesma lhe fosse tirada mas com o limite de não tirar a vida. Deus é que diz a última palavra e Ele tem prazer em abençoar e recompensar.
Naturalmente que o Diabo tirou-lhe tudo o que podia. Deu-lhe a doença pior e dos pés à cabeça. Somente não tirou a vida porque o Senhor não deixou. Depois de o Diabo lhe fazer mal (com o consentimento de Deus) vieram os amigos confortá-lo. Mas esse conforto não funcionou. Os amigos defenderam Deus com mentiras, culpabilizando Jó por tudo aquilo que lhe estava a acontecer. Isto irritou Jó e desagradou a Deus. Devemos defender Deus com verdades e não com mentiras.
Muitas vezes é exactamente isto o que nos sucede; o Diabo faz-nos mal, com o consentimento de Deus e aparecem os amigos e os crentes a defender Deus e a arranjar um bode expiatório. Nem sempre a culpa do que nos acontece é da nossa responsabilidade. No caso de Jó, por exemplo, não era!
Deus está sempre por cima de todas as coisas e no capítulo 38 nós vemos o Senhor a falar com o Seu servo. Graças a Deus! Vale a pena suportar um pesado teste para receber uma boa nota (uma boa classificação). Nem todos nós suportaríamos o que Jó suportou, mas Deus sabia que ele tinha arcaboiço para aguentar e a prova disso é que aguentou. Nós não somos tentados acima daquilo que podemos.
Depois de todo o sofrimento de Jó, em que ele desabafou na sua sinceridade sem pecar, Deus falou com ele e perguntou: “Quem é este que escurece o conselho, com palavras sem conhecimento?” (Jó 38:2) Deus coloca Jó na posição de homem (que sempre foi) e faz-lhe perguntas paternalmente e pacientemente. Afinal, Deus dá-lhe uma boa explicação de tudo. Não pede desculpa nem agradece, mas explica e recompensa. O que é que poderia pedir mais de Alguém que é o Criador e Senhor de tudo?
Diante desta realidade, Jó diz; “Eis que sou vil; que Te responderia eu? A minha mão ponho na minha boca” (Jó 40:4). É assim que acontece com os pobres mortais diante do Santo Eterno! Quantas vezes vamos orar aos pés de Deus, cheios de razão e quando nos levantamos já não temos razão alguma!
Evidentemente que ninguém gosta de perder coisa alguma, seja saúde, vida, família ou até bens materiais. Mas se tudo isso tem um senhorio, que reivindicação poderemos nós fazer? Se alguém nos empresta alguma coisa e depois vem buscar o que é seu, o que devemos fazer? Agradecer o empréstimo durante o tempo passado ou protestar pelo facto desse empréstimo não continuar para o futuro?
Ora, o Senhor havia emprestado muitas coisas a Jó. Certamente que poderia recolhê-las em qualquer altura sem ter de prestar contas a ou dar explicações a alguém. Verifica-se que Jó compreendeu isso em face da pergunta que fez à esposa: “Receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal?” (Jó 2:10)
É verdade que o mais importante, e que perdura para sempre, é a salvação eterna que Deus quer dar a cada um dos mortais pecadores. E isso ultrapassa todos os bens terrenos. Mas, até mesmo destas coisas efémeras da terra Deus quer dar também. E a prova disso é que voltou a dar tudo a Jó, mas desta vez em duplicado. Até mesmo os filhos, porque as pessoas, ao contrário das coisas materiais, não desaparecem mas continuam para sempre!
Deus recompensa e isso ultrapassa qualquer agradecimento oral ou escrito do género da antiga “Legião Portuguesa”! Deus muda o sofrimento e abençoa o que ultrapassa qualquer pedido de desculpas formal sem significado. Além disso explica paternalmente e pacientemente como criou todas as coisas, embora não tivesse de o fazer.
Quando somos prejudicados necessitamos de ser ressarcidos e não de meras palavras, a exemplo de um filme, cujo título era: “Desculpe, se o matei!”
Naturalmente que Deus não é obrigado a explicar coisa alguma nem a abençoar as pessoas, mas se Ele assim o faz eu fico contente e agradecido. Fazemos bem em submeter-nos a Ele, entregar tudo nas Suas benditas mãos. Ele fez tudo o que devia ser feito para nos salvar da perdição eterna!
Autor do Artigo;
Agostinho Soares

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