09 junho, 2008

"O QUE OCORREU EM FÁTIMA NÃO FOI CRIADO LÁ"

A nós, historiadores, compete (...) colocar a questão ao nível da problematização, introduzindo uma reflexão crítica e uma nota de inteligência na compreensão dos mecanismos da fé. Devemos esclarecer como se geram as crenças e como são alimentadas. O marianismo ou as aparições marianas são um elemento muito específico, muito centrado no culto popular. Tudo o que ocorreu em Fátima não foi criado lá. As raízes profundas do culto mariano têm milhares de anos, remontam às deusas do Neolítico. Fátima foi uma revelação particular, como assumiu muito claramente o próprio Ratzinger. Não é um dogma de fé. Acreditar ou não tornou-se uma questão individual. É o mesmo que os contactos de hoje virem com revelações e visões de seres extraterrestres, que também transportam mensagens e profecias. Que direito temos de aceitar umas mensagens e não outras? Está tudo no mesmo plano: o da subjectividade" (Revista Visão, 17.4.08, p. 24, entrevista de Mário David Campos a Joaquim Fernandes - doutorado em História e co-fundador do Centro Transdisciplinar de Estudo da Consciência)
Aqui está a pós-modernidade em todo o seu "fulgor": remeter a fé para a subjectividade e a ciência para a objectividade. A fé pertence ao coração e à opinião, a ciência à razão e à lógica. Cada uma tem a sua verdade e no campo da fé todas as verdades são possíveis.
Como se encontra longe da revelação bíblica. No que diz respeito a Fátima, segundo a Bíblia, Maria nunca apareceu nem nunca vai aparecer, porque não tem cabimento na doutrina bíblica, melhor afronta essa mesma doutrina e nega-a. Trata-se de uma heresia. Sabendo-o, o catolicismo romano pretendeu contornar a contradição não a considerando um dogma mas uma crença e devoção individual. Só que perante a Palavra de Deus a nossa fé não é, nem pode ser, uma questão de opinião pessoal, mas de adesão à própria revelação. A fé vem pelo ouvir o que Deus nos diz pela Sua palavra. É aqui que o catolicismo romano falhou e falha qualquer outra confissão sociologicamente tida por cristã, quando cede à religiosidade popular e abandona o que Deus fala. A Bíblia para o cristão é o fio-de-prumo da sua mente e do seu coração. É o diapasão pelo qual afinamos o nosso pensamento e o nosso sentir.
A fé cristã que provém da Bíblia em Jesus Cristo é objectiva e subjectiva. Jesus Cristo entrou na história. Deus tornou-se visível. Nós sabemos que cremos na verdade. A realidade é o alicerce da nossa fé. O Jesus da fé é o Jesus da história, que a transcende porque está muito para lá do tempo - é eterno e absoluto. Não há contradição. A objectividade histórica da fé cristã provoca uma experiência subjectiva, que é ela também essencialmente objectiva, porque manifestada nos frutos pelos quais é conhecida. Foi Jesus quem disse que é pelos frutos, a realidade objectiva, que os Seus seguidores seriam conhecidos.
Na existência terrena de Cristo ressalta de forma proeminente a Sua morte e a Sua ressurreição e foi o apóstolo Paulo que declarou, inspirado pelo Espírito Santo, que se não tivesse ressuscitado, ou se fosse possível provar que Ele não ressuscitou, a nossa fé seria vã. Mas a fé em Jesus vai muito para lá do tempo, do aqui e agora, porque, segundo o mesmo escritor, se esperamos em Cristo apenas nesta vida somos os mais miseráveis de todos os homens. A vida de Cristo em nós é vida eterna, vida que permanece para todo o sempre. Por isso a quase totalidade dos discípulos enfrentaram uma morte violenta, porque sabiam objectivamente que pregavam a verdade, a realidade que é Jesus Cristo, ressuscitado de entre os mortos e viviam essa mesma verdade, faziam parte dessa nova realidade. Como cristãos aguardamo-la em toda a sua plenitude, na segunda vinda de Jesus Cristo para novos céus e nova terra em que a justiça habitará para sempre. E isto nada tem a ver com a tecnologia de civilizações extraterrestres, mas com a dimensão espiritual em Deus. O corpo corruptível que hoje temos é devido à morte espiritual da separação de Deus e da Sua vida. Em Jesus recebemos de volta essa vida e teremos na ressurreição dos mortos um corpo incorruptível. Até lá glorificamos a Deus, como nova criação em Cristo, neste corpo que é habitado pelo Espírito Santo.
Autor do Artigo;
SRP

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