21 maio, 2008

REINO DE DEUS E REINO DOS CÉUS

Jesus falou do Paraíso, do Seio de Abraão, da Vida Eterna, do Reino de Deus, do Reino dos Céus, e da Casa do Meu Pai. Qual é a diferença?». B. C. - LISBOA.
No fundo, todas as designações bíblicas mencionadas pela leitora parecem referir-se ao estado de perene beatitude, ao mundo de santa felicidade na presença de Deus. Contudo, especialmente nas expressões Reino dos Céus e Reino de Deus existem diferentes opiniões quanto ao seu sentido teológico.
Assim, nas linhas que se seguem daremos o significado de cada uma das aludidas expressões bíblicas, que se nos afigura mais correcto à luz das Escrituras Sagradas.
1. CASA DO MEU PAI
No Evangelho de João 14:1 a 3, o Salvador conforta os Seus discípulos que estavam prestes a ser privados da presença física de Cristo, aquando da Sua morte e ascensão, dizendo-lhes haver na Casa de Seu Pai (Céu dos Céus ou Paraíso) muitas moradas.
A «Casa do Pai» é a mansão especial de Deus, bem como dos seres angélicos e dos salvos. É o doce e eterno Lar dos redimidos pelo sacrifício de Jesus.
2. VIDA ETERNA
A vida eterna é a bem-aventurada comunhão espiritual entre o homem salvo e o Seu Criador, mediante a pessoa de Cristo; é a vida divina revelada em Jesus (I Cor. 1:2), a qual se implanta no ser humano pelo novo nascimento (João 3:3-15).
Essa vida de perfeita felicidade com Deus e no Seu mundo é perpétua, podendo ser desfrutada já pela fé neste mundo.
Quem recebe tal vida torna-se uma nova criatura (II Cor. 5:17; Gál. 6:15). Ma presença do Senhor os redimidos usufruem plena e eternamente a vida eterna.
3. SEIO DE ABRAÃO
No texto bíblico de Lucas 16:22 o Senhor Jesus Cristo emprega a expressão figurativa «seio de Abraão» para significar uma situação espiritual, após a morte, de felicidade e grande honra.
Lê-se em O Novo Dicionário da Bíblia, de J. D. Douglas, a propósito da aludida linguagem metafórica: «O falecido Lázaro é descrito como alguém reclinado próximo de Abraão, na festa dos benditos, segundo a maneira judaica, que levava a cabeça de uma pessoa quase a encostar-se contra o peito de outra que estivesse reclinada mais para cima. E era nessa posição que ficava o hóspede mais favorecido em relação ao anfitrião (exemplo João 13:23). Reclinar-se no seio de Abraão, na linguagem talmúdica, era igual a entrar no paraíso (...).»
4. PARAÍSO
Paraíso, na sua acepção espiritual, é o mesmo que «terceiro céu» (II Cor. 12:1-4), isto é, o céu glorioso. No livro do Apocalipse 2:7 o Paraíso é apresentado no seu sentido escatológico: «Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do Paraíso de Deus.»
Alguém escreveu: «O Paraíso presente virá em sua glória completa por ocasião da consumação final. A ideia de um jardim de Deus no mundo por vir é fortemente salientada no último capítulo do Apocalipse. Os símbolos da árvore da vida, da água da vida gratuita, e das doze espécies de fruto, são testemunhos sobre a glória do Paraíso vindouro (Apoc. 22).»
5. REINO DE DEUS.
REINO DOS CÉUS
Muitos exegetas cristãos pensam que reino de Deus e reino dos céus são uma e a mesma coisa, e costumam citar os textos de Mateus 5:3 Lucas 6:20, por exemplo, em abono do seu ponto de vista. Argumentam ainda que S. Mateus usou quase sempre a expressão reino dos céus em lugar de reino de Deus, visto o Evangelho que tem o seu nome ser dirigido especialmente aos Judeus, evitando desse modo o emprego directo do santo Nome de Deus.
O reino de Deus, segundo a Bíblia, é justiça, paz e alegria Espírito Santo. Num certo sente esse reino espiritual de graça e s vação já está presente (U 17:20,21).
J. J. Von Allmen, no livro vocabulário Bíblico, adianta: «O emprego tão frequente deste termo no No Testamento e nos Sinópticos particularmente , sem que em parte s seja definido, mostra bem que o a uso era familiar aos ouvintes Jesus, bem como à primeira geração cristã.»
O escritor James Robertson, i sua obra Ensinos de Jesus, dá-nos uma definição interessante de verdadeira de Deus. Reproduzimo-la nas lira que se seguem.
«Jesus mesmo não nos dá un definição, e é difícil resumir todos c aspectos que Ele atribui à expresso Reino de Deus. Às vezes Ele fala d Reino como consistindo de pessoa (Marc. 10:14). Noutras ocasiões fez dele como de uma coisa -supremo bem da vida humana (Ma 6:33; Luc. 12:32). Doutra feita ■ dele como de uma esfera ou reine dentro ou fora da qual os homem podem estar (Marc. 10:23).
«Mas, não obstante as dificuldades, é necessário que procuremos responder à pergunta: Que é o Reino: de Deus, de que falam os Evangelho? Digamos, pois, que é (a) o nome; que Jesus deu àquele 'bom tempo que surgirá entre os homens - um; ideia áurea - à qual Ele veio dar indo, será continuada pelo Espírito, = virá ainda em glória perfeita, no futuro . Ou (b) uma esfera de vida mais alta do que a nossa esfera natura em que os homens poderão nasce -de novo (João 3:3), e em que o Esp ■ rito opera, dando a vida eterna. 0„ (c) é uma nova sociedade ou comunidade que Jesus veio formar, constituída de homens redimidos do; pecado, tendo comunhão com Deus como filhos, e em que Ele é para eles e eles são para Ele, e uns para corri os outros, tudo o que são capazes. Deste modo a velha promessa terra um glorioso cumprimento: 'Sere para eles um Deus, e eles serão para mim um povo'.»
Não queremos terminar este assunto sem dar a palavra a Sco-fiel d, uma autoridade na matéria, o qual entende não serem sinónimas as expressões reino de Deus e reino dos Céus. Escreve Scofield, no rodapé da Santa Bíblia que anotou, a páginas 963 (Editorial «Publica posiciones Espanholas», 1973: «O reino de Deus distingue-se do reino dos céus (Mat. 3:2) em cinco aspectos: (1) O reino de Deus é universal, e inclui todos os seres morais e inteligentes que se sujeitam voluntariamente a Deus, quer sejam os anjos, a Igreja, ou os santos das dispensações passadas e futuras (Luc. 13:28,29; Heb. 12:22,23), enquanto o reino das céus é messiânico, medianeiro e davídico, e tem por objectivo o estabelecimento do reino de Deus sobre a Terra (Mat. 3:2; I Cor. 15:24,25). (2) Entra-se no reino de Deus só pelo nascimento (João 3:3, 5-7); o reino dos céus, durante a presente idade, é a esfera de profissão da fé cristã que pode ser genuína ou falsa (Mat. 13:3; 25:1,11, 12).
«(3) Visto que o reino dos céus é a esfera terrestre do reino universal de Deus, ambos têm quase tudo em comum. Por este motivo, vemos muitas parábolas e outros ensinos relativos ao reino dos céus em Mateus, e ao reino de Deus em Marcos e Lucas. As omissões, porém, são significativas. As parábolas do trigo e joio, e da rede (Mat. 13:24-30,36-43, 47-50) não se referem ao reino de Deus, porque nesse reino não há joio nem peixes ruins. Mas a parábola do fermento (Mat. 13:33) alude ao reino de Deus, porque infelizmente as verdadeiras doutrinas do reino são levedadas com os erros, dos quais os Fariseus, Saduceus e Herodianos eram representantes. (4) O reino de Deus «não vem com aparência exterior» (Luc. 17:20), consistindo naquilo que é maior mente interior e espiritual (Rom. 14:17); enquanto o reino dos céus é orgânico, e manifestar-se-á com glória neste mundo (Zac. 12:8; Luc. 131-33; I Cor. 15:24; Mat. 17:2). (5) O reino dos céus tornar-se-á um com o reino de Deus quando Cristo entregar o reino a Deus, o Pai (I Cor. 15:24-28).»
Autor do Artigo ,
F.M

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