11 maio, 2008

Que faremos de Jesus Cristo?

A pergunta certa não é o que vamos fazer de Cristo, mas o que Ele vai fazer connosco.

O que vamos fazer de Jesus Cristo? Num certo aspecto, essa pergunta não deixa de ter um lado cómico. É que a pergunta certa não é o que nós vamos fazer de Cristo, mas o que Ele vai fazer connosco. A imagem que essa pergunta transmite é a de uma mosca pousada, matutando sobre o que vai fazer com o elefante que está debaixo dela; e tal situação tem o seu lado engraçado.
Mas é possível que quem propôs essa questão tivesse em mente o que fazer com Jesus no sentido seguinte: «Como vamos solucionar o problema histórico originado pelo registo das palavras e actos desse homem?»
E o problema está em conciliar dois factos. De um lado, temos os ensinos morais d'Ele, reconhecidos por quase todo o mundo, até pelos que se opõem ao Cristianismo, como sendo profundos e sensatos. Aliás, sempre que entro em conversa com ateus ou pessoas que não aceitam as coisas de Deus, eles fazem questão de ressaltar:
«Estou plenamente de acordo com o ensinamento moral do Cristianismo», diz o ateu.
E parece que existe um consenso geral em torno da ideia de que os ensinos desse homem e dos Seus seguidores imediatos contêm a verdade moral na sua melhor e mais pura forma. Não se trata de um idealismo louco; pelo contrário, transborda de sabedoria e inteligência. Todo ele é realista, com um alto grau de novidade, e só pode ter saído de uma mente em seu perfeito juízo. Isso constitui um dos fenómenos.
O outro fenómeno é a natureza audaciosa das afirmações teológicas desse homem. Todos sabem a quem me estou a referir. E aqui se desejo salientar que essas afirmações audaciosas foram feitas durante toda a Sua carreira, e não apenas num momento dela. Há, por exemplo, a que culminou na Sua execução. Naquela hora o some sacerdote indaga:
-Quem és tu?
-Sou o Ungido, diz Ele, o Filho de Deus, e no fim dos tempos todos Me verão aparecer como juiz do universo.
Mas essa auto-identificação não ocorre apenas nesse momento tão crítico da Sua vida. Se estudarmos as conversas que Ele manteve com diversos indivíduos veremos que a mesma afirmação permeia as Suas palavras. Um exemplo disso foi o facto de haver dito diversas vezes: «Perdoados estão os teus pecados.» Bem, é muito comum perdoarmos aos outros os males causados a nós. Isto é. se alguém me rouba certa quantia em dinheiro, não é improvável nem absurdo alguém dizer-lhe: «Ah, eu perdoo-lhe vamos esquecer tudo.»
Mas que diria o leitor se alguém tivesse roubado o seu dinheiro e eu dissesse: «Ah. deixa lá: eu perdoo-lhe»?
E aconteceu também um outro facto interessante, no qual nova afirmativa audaciosa como que escapa dos Seus lábios quase por acaso. Ele encontrava-se no alto de um morro em Jerusalém, e de repente faz um comentário espantoso: «Estou sempre enviando a vós sábios e profetas.»
E ninguém faz nenhuma contestação. No entanto, Ele está a afirmar, meio incidentalmente, que é o Todo-Poderoso que durante séculos tem enviado ao mundo sábios e líderes religiosos.
E eis outro comentário curioso. Em quase todas as religiões observam-se práticas desagradáveis como o jejum, por exemplo. Pois certo dia, repentinamente, esse homem faz a seguinte declaração: «Enquanto Eu estiver aqui ninguém precisa de jejuar.»
Quem é esse que diz que estande Ele presente ficam suspensas as leis normais da religião? Quem é esse indivíduo que, de uma hora para outra, pode dizer aos estudantes que «hoje não há aula»? Algumas das Suas palavras transmitem a ideia de que Ele. aquele que fala. é uma pessoa totalmente sem pecado. A atitude que sempre parece ter é: «Vocês, a quem estou a dirigir-me, são todos pecadores.» Mas nem por sombra dá a impressão de que a mesma coisa possa ser dita a Seu respeito.
Outra coisa que Ele diz é: «sou Filho do único Deus: antes que Abraão existisse, Eu sou.»
E lembremos que as palavras «eu sou», em hebraico, eram o nome de Deus, que não podia ser pronunciado por nenhum ser humano: um nome que significa morte para quem o pronunciasse.
Pois bem; esse é o outro facto. De um lado temos os Seus ensinamentos morais, claros, bem definidos. De outro, essas afirmações que. se mão forem verdadeiras, são produto de um megalómano, de um louco, perto de quem Hitler poderia ser considerado um homem sensato e humilde.
Mas com Ele não há meios -ter-mos; e essa situação não encontra paralelo em nenhuma das religiões do mundo. Suponhamos que perguntemos a Buda:
-És filho do deus Brama?
Ele responder-nos-ia assim:
-Filho, ainda estás no vale das ilusões.
Se perguntássemos a Sócrates: «Tu és Zeus?», ele rir-se-ia de nós. Se perguntássemos a Maomé: «És Alá?; primeiro ele rasgaria as suas vestes, e depois mandaria decapitar-nos. Se perguntássemos a Confúcio: «ÉS os céus?», acredito que provavelmente responderia assim: «As observações que não têm cabimento dentro da natureza são de muito mau gosto.»
A ideia de um grande e sábio mestre não combina com as coisas que Cristo disse. Em minha opinião, só Deus poderia fazer aquelas afirmações: ou Deus, ou um louco, uma pessoa dominada por uma demência total, dessas que destroem a mente do indivíduo. Quem pensa
que é um ovo cozido e está a procurar um pouco de sal para se temperar, talvez ainda tenha cura; mas se alguém pensa que é Deus, para esse não há mais esperança.
É bom observar que Cristo nunca foi considerado como um simples mestre. Não era essa a ideia que Ele transmitia aos que O conheciam de perto. De um modo geral, eram três as reacções que Ele provocava nas pessoas com quem tinha contacto: ódio, temor, adoração. Não há a menor indicação de que algumas demonstrassem para com Ele uma leve simpatia.
Então, o que vamos fazer para conciliar esses dois fenómenos contraditórios? Uma tentativa para isso consiste em dizer-se que Ele não fez tais afirmações, mas que os Seus seguidores é que exageraram, nascendo daí a lenda de que Jesus as teria feito. Mas essa tese é difícil de ser confirmada pois todos os Seus seguidores eram judeus; isto é, pertenciam a um povo que cria profundamente na existência de um único Deus, e acreditava que não poderia haver outro. Seria muito estranho que essa invencionice referente a um líder religioso partisse exactamente do único povo da Terra que tinha menor probabilidade de criá-la. Pelo contrário, temos a impressão que nenhum dos Seus seguidores imediatos, nem mesmo os que escreveram os livros do Novo Testamento, aceitaram facilmente a doutrina de que Jesus era Deus.
Outro aspecto dessa tese é o de que teríamos de considerar todos os relatos acerca de Cristo como sendo lendas. Sendo um historiador da literatura como sou, estou plenamente convencido de que os Evangelhos podem ser muita coisa, mas lendas não são. Já li e estudei muitas lendas, porém esses livros não são esse tipo de literatura. Primeiro, não são suficientemente artísticos. Depois, visto do ponto de vista de imaginação, são mal estruturados os factos narrados não são elaborados correctamente. Grande parte da vida de Jesus é obscura para nós como de resto é a vida das outras pessoas que viveram naquela época. E se alguém estivesse a querer forjar um ser lendário, não deixaria isso em branco. Na literatura antiga não existem outros diálogos, que eu saiba, semelhantes aos que temos no quarto Evangelho, a não ser, talvez, alguns trechos dos diálogos de Platão. E mesmo na literatura moderna só encontramos similares deles de uns cem anos para cá depois de surgir o romance realista.
No relato do confronto de Jesus com os judeus a propósito da mulher que fora surpreendida em adultério vemos que, em dado momento Cristo se abaixou começando a rabiscar no chão com o dedo. E nada resulta disso; ninguém procurou criar uma doutrina a partir desse pormenor. E a arte de inventar pequenos pormenores irrelevantes para tornar
mais realista uma cena de ficção, só surgiu na literatura moderna. Portanto, existe apenas uma explicação para esta passagem: ela aconteceu mesmo; o escritor colocou esse pormenor aí porque ocorreu de facto.
Por fim, há o relato mais estranho de todos: o da ressurreição, É necessário que analisemos esse facto com ■ clareza.
Certa vez ouvi um indivíduo dizer: «A grande importância da ressurreição de Cristo é a mesma provar que existe vida depois da morte, que a personalidade humana sobrevive à morte.»
Segundo ele, então, o que aconteceu a Cristo é algo que sempre aconteceu a todos os homens, com a diferença de que, no caso de Jesus, temos uma evidência visual do acontecimento. Mas não era isso que os primeiros escritores cristãos pensavam. Para eles, acontecia ali um facto totalmente novo na história do universo. Cristo vencera a morte. Aquela porta, que sempre estivera trancada, fora agora arrombada, pela primeira vez. Isso é muito diferente da crença ná existência de tantas mas.LJ'Jãoj3uj|ro_djzer com isso que eles não acreditassem em fantasmas; pelo contrário. Tanto acreditavam que num dos seus contactos com Cristo, pensaram que Ele fosse um, e o Senhor teve de garantir-lhes que Ele não era um fantasma.
O ponto é que apesar de crerem que o espírito do homem continuava a existir após a morte, eles falaram da ressurreição de Cristo como um acontecimento totalmente novo e diferente. Os relatos deles não apresentam o quadro de uma personalidade que sobreviveu à morte, não. Eles revelam que um novo tipo de ser surgiu no universo, tão novo quanto a primeira vida orgânica que apareceu aí. Esse homem, após a morte, não foi dividido em duas partes: cadáver e fantasma. Não; um novo tipo de ser surgiu.
Estes são os factos. O que vamos fazer com eles?
Acredito que a questão é saber se existem outras explicações mais perfeitas do que a cristã, isto é, a de que Deus veio a este universo que criara, desceu até aos homens e depois voltou de novo ao céu, levando consigo a condição de homem. E a outra alternativa não poderia ser de que se trata de uma lenda, nem de um exagero, nem de aparições de um fantasma. A outra alternativa é de que tudo é mentira ou partiu de um louco. Quem não puder aceitar essa
segunda alternativa (e eu não posso), tem de aceitar a doutrina cristã.
«Que faremos com Jesus Cristo?» Não há dúvida quanto ao que temos de fazer com Ele; a questão toda reside no que Jesus pretende fazer connosco. Temos de aceitar ou rejeitar a história.
As afirmações d'Ele são muito diversas das de outros mestres e filósofos. Eles declaram «A verdade está aí, no universo. O caminho que se deve seguir é tal e tal.»
Mas Jesus afirma: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida». E diz mais: «Ninguém poderá chegar à realidade absoluta a não ser por Meu intermédio. Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor a Mim, achá-la-á». E mais: «Qualquer que de Mim e das Minhas palavras se envergonhar, dele Me envergonharei quando vier em glória. Vinde a Mim todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Todos os seus pecados estão perdoados. Eu sou a ressurreição e a vida. Eu sou o pão da vida; aquele que vem a Mim não terá fome; e quem crê em Mim nunca terá sede. No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; Eu venci o mundo».
Essa é a questão.

Autor do Artigo :
C.S .Lewis

1 comentário:

Anónimo disse...

Pedro Aurélio

Recebi seu comentário em meu blog "Defesa da Verdade", e esteja certo de que estarei apresentando ao Senhor o irmão em minhas orações.

Caso queira trocar ideias e/ou se comunicar, meu msn é (para segurança do mesmo foi apagado o endereço do mms )

Em Cristo

Pr. Mauro