21 maio, 2008

Profissão de Pastor Evangélico em Portugal

No programa televisivo da SIC, Casos de Polícia, emitido a 29/11/95, em que se criticou e condenou mais uma vez a IURD ("Igreja Universal do Reino de Deus"), os responsáveis do supracitado pro-grama prestaram um mau serviço aos portugueses em geral, pois a comunicação deverá assentar em factos e não em inverdades.
Disse-se no aludido pro-grama que "a profissão de pastor evangélico foi introduzida ou trazida para Portugal há dez anos pela IURD". Não se proferiu só essa falsidade. Declarou-se também que "as Igrejas Evangélicas são todas uma vigarice". Tais asserções revelam ignorância, ou, pior ainda, má fé.
Estamos documentados para colocar os factos como a História os regista. Assim, afirmamos que em Portugal (no continente europeu) existem Igrejas Evangélicas a partir de 1641. Todavia, desde 1633, no antigo oriente português, em Batávia (hoje Jacarta, capital da Indonésia), havia uma Igreja Evangélica composta de portugueses. E tais comunidades cristãs eram dirigidas pelos seus próprios ministros ou pastores (1).
Diga-se em abono da verdade que na metrópole, nesses tempos recuados, a membrasia e os respectivos pastores não eram totalmente de nacionalidade portuguesa, pois tal não se permitia aos cidadãos do nosso país... Nem os republicanos, que segundo consta estavam filiados na maçonaria, conseguiram a liberdade religiosa e de culto. Só com a revolução de 25 de Abril de 1974 as coisas ficaram um pouco melhor. Por exemplo o Professor Cavaco Silva, durante vários anos Chefe do Governo, declarou existir em Portugal apenas tolerância religiosa, o que é um triste facto.
Antes de nos pronunciarmos sobre os primeiros pastores evangélicos portugueses (ex--sacerdotes católicos romanos), os quais no início tiveram de nacionalizar-se espanhóis (!!) a fim de poderem exercer o múnus pastoral na terra natal, aproveitamos o ensejo para revelar que apenas três anos depois do Dr. Martinho Lutero haver dado publicidade às suas 95 teses em Vitemberga na Alemanha, já o nome do reformador se mencionava na diplomacia portuguesa (2).
Pelo que disse João de Barros, em 1531, nessa altura já muitos portugueses simpatizavam com a Reforma Protestante, vivendo em território nacional. Nos anos que se seguiram, os escritos contra a Reforma aumentaram em número e tom cada vez mais agressivo e repressivo (3).
Quem analisou as fichas dos processos da Inquisição em Portugal diz que, dos 40 000 existentes na Torre do Tombo, em Lisboa, dez mil tratam de pessoas ligadas ao protestantismo, e os restantes processos dizem respeito quase na totalidade a cidadãos de etnia judaica, de cristo islamitas e bem poucos de outra ordem (4).
O bacharel em cânones pela Universidade de Coimbra foi o primeiro português (que seja do nosso conhecimento) a confessar e a professar o luteranismo em Portugal. Isso ocorreu no ano de 1570, e só depois da condenação do bacharel Manuel Travassos é que seria preso a pretexto de ser luterano o famoso cronista Damião de Gois (5).
O cidadão português João Ferreira de Almeida (1628--1691) abraçou a Reforma Luterana na leitura da Igreja Holandesa Reformada, no ano de 1641, na região asiática de Malaca, numa igreja com muitos portugueses e sob o pastorado dos ministros da Igreja Holandesa. Ordenou-se ao fim de quatro anos de estudo com professores habilitados. Ele legou ao mundo de língua portuguesa a primeira tradução da Santa Escritura no idioma de Camões. A sua cultura cristã ficou a dever-se a um tio que era sacerdote da Igreja Católica e aos missionários protestantes holandeses (6).
Outro português que aderiu ao protestantismo de confissão anglicana foi Francisco Xavier de Oliveira (1702-1783), conhecido no estrangeiro pelo célebre Cavaleiro de Oliveira. Perto da Praça do Chile, na capital lisboeta, existe uma rua com o seu nome (infelizmente associado ao nome que os estrangeiros conhecem). Oliveira é um valor na área da nossa epistolografia, no século XVIII. Passou à história como o protestante lusitano (7).
Mais perto de nós, no ano de 1870, a Igreja Católica dogmatizou a doutrina da infalibilidade papal, provocando forte reacção por parte dos católicos liberais, e não só. Escritores como Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, e o próprio bispo de Viseu, Dom António Alves Martins, insurgiram-se contra tal inovação teológica sem qualquer fundamento na Escritura. Por via disso, vários padres católicos tornaram-se pastores protestantes ou evangélicos.
Em 1874 iniciou-se entre nós a Igreja Episcopal (Igreja Lusitana Evangélica), constituída sobretudo por ex-padres católicos. Entretanto, três anos antes organizara-se na cidade do Porto a Igreja Metodista e em Lisboa a Igreja Presbiteriana. Registe-se o facto de, já em 1845, o Dr. Roberto Reid Kelley, médico e pregador escocês, haver fundado a Igreja Presbiteriana no Funchal (Madeira) com os naturais da Ilha.
Os primeiros pastores evangélicos radicados no nosso país foram os ex-sacerdotes Manuel António Pereira, em Lisboa, e ex-capelão da Armada, Joaquim da Costa e Almeida. Este adere à Reforma no ano de 1870, sendo por isso excomungado e julgado no tribunal de Sintra, em 1895, portanto há mais de cem anos, e não há dez anos... (8).
Esclareça-se que o estatuto de pastor evangélico ou de ministro de outras confissões não católicas, vem do governo de Marcelo Caetano. O autor deste artigo, na qualidade de pastor, desconta para a Previdência e Segurança Social desde 1976, enquanto a IURD organizou-se no Brasil em 1977, chegando a Portugal há dez anos. Sendo o articulista pastor evangélico há 37 anos, ficou privado durante bastante tempo de contribuir para a Caixa da Previdência.
Seria justo que a SIC, num dos seus programas, procurasse reparar a verdade histórica, ou se retratasse das falsidades transmitidas no dia 29 de Novembro de 1995. É que as Igrejas Evangélicas não são nenhuma vigarice, e se não lhe deram há mais tempo um estatuto legal, a culpa não poderá ser atribuída às mesmas.

Autor do Artigo :
A. C. BARATA

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá, achei este blog por acaso, aqui tem também o meu, espero que goste. http://verdade-liberdade.blogspot.com/
A verdade tem que ser dita, independentemente das consequências, ainda foi bonzinho com a IURD, porque pessoalmente considero-os como seita. Eu sei que eles têm muito sucesso com no meio dos portugueses, pois muitos pensam negociar com Deus, pagando a essa organização.
até breve