17 maio, 2008

O cântico da dor

.
Á cânticos que apenas se aprendem no vale da dor. Arte alguma pode ensiná-los; nenhum exercício vocal consegue que os entoemos perfeitamente. A sua música está no coração. São cânticos que a recordação nos traz à mente; são fruto da experiência pessoal. O conteúdo desses cânticos vem da sombra do passado; tais cânticos sobem até às alturas nas asas do que passámos e aprendemos ontem.
O apóstolo João declara que, mesmo no Céu, haverá um cântico que só pode ser plenamente entoado pelos filhos da Terra: o cântico da redenção (Ap 14:3). Sem dúvida é cântico de triunfo, um hino de vitória a Cristo, que nos libertou. A consciência do triunfo, porém, virá pela lembrança das cadeias.
Nenhum anjo ou arcanjo poderá cantar tão docemente esse hino como nós. Para entoá-lo, eles teriam de passar pelo nosso exílio, e isso não são capazes de fazer. Pessoa alguma conseguirá aprender tal cântico senão os filhos da Cruz.
Por esse facto estamos a receber do Pai uma aula de música. Estamos a ensaiar a fim de cantarmos no coro invisível. Há partes na sinfonia que ninguém pode executar, senão nós mesmos.
Existem acordes menores, que os anjos não sabem interpretar. Poderá haver agudos na sinfonia que estejam para além da escala normal: agudos que só os anjos logram alcançar. Há baixos, todavia, que pertencem a nós. tons graves que apenas nós, seres humanos, podemos atingir.
Deus Pai está a treinar-nos para a parte que os seres angélicos não são capazes de cantar: é a escola do sofrimento. Muitos dizem que o Senhor envia o sofrimento para provar-nos; não, Ele envia as dores a fim de ensinar-nos e preparar-nos para o coro invisível.
Sim, na noite da aflição o Senhor prepara o nosso cântico. No vale Ele afina a nossa voz. Na nuvem Ela dá maior sonoridade aos acordes que devemos tocar. Na chuva Ele suaviza a melodia. No frio Ele molda a expressão. Na transição brusca da esperança para o temor, Deus aperfeiçoa a sonoridade.
Não desprezemos a escola do sofrimento; ela dar-nos-á uma parte única no cântico universal.
Autor do Artigo .
G. MATHESON

Sem comentários: