07 maio, 2008

Minorias Ocultadas

ALCANÇAR OS "CRISTÃOS ATEUS
A visão geral de Jesus Cristo sobre o Velho Testamento era a de que o mesmo, revestido de autoridade divina e estendendo tal autoridade à história do seu povo, se constituía como a base teológica do Seu Evangelho.
ELIAS UM HOMEM TELÚRICO QUE APESAR DA SUA DUREZA CONSEQUENTE SOÇOBROU, O SEU DESMORONAMENTO DEU-SE DO INTERIOR PARA O EXTERIOR
O prof. Griffith Thomas, teólogo conservador, calvinista ao mêsmo tempo que pré-tribulacionista, diria no início do século XX de outro modo, ao escrever1 sobre "a profunda reverência de nosso Senhor para com o Antigo Testamento" e "o uso constante que fazia dele em todas as questões sobre o pensamento e vida religiosa".
Sua pergunta "Nunca lestes nas Escrituras?"; Sua afirmação repetida "Está escrito"; Seu testemunho "Errais não conhecendo as Escrituras", dão-nos essa dimensão da importância da Bíblia Judaica.
Neste contexto, o Senhor Jesus Cristo não desconhecia, do ponto de vista do pormenor histórico, a "doença" de que foi Elias acometido, uma vez que falou do seu valor como homem de Deus, admitindo que a figura real do profeta era tipológica, que representava na Bíblia Judaica a própria pessoa de João Baptista, no aspecto profético. "Elias já veio, e fizeram dele tudo o que quiseram, como a seu respeito está escrito." 2
A FUGA EM FORMA DE SUBIDA DE ELIAS
A cena como a conhecemos foi um facto marcante da vida do profeta. Não obstante a ascensão a Horebe, que poderia ser simbólica em virtude do monte sagrado para onde se deslocou, foi, contudo, um caminho para uma queda até ao mais profundo de toda a sua estrutura física e psicológica.
Elias um homem telúrico que apesar da sua dureza consequente soçobrou, o seu desmoronamento deu-se do interior para o exterior. Quantas vezes, homens de grande decisão, se perdem no refúgio da profundidade do seu próprio âmago, incapazes de reacção perante as circunstâncias adversas?
Baixa auto-estima e senso de derrota - já lemos algures. O facto é que depois de uma ameaça, Elias fugiu, por isso se sentiu ainda mais cobarde, porque se confrontou com a ideia de uma prevalência do mal, esculpido na figura de Jezabel? Também, mas discordamos da ideia de que o profeta deu lugar à sua carnalidade. O que Elias acabou por entender foi a sua natural debilidade, quando acabara de passar por um avivamento de que fora o principal protagonista. Assim, foi uma resolução dramática em função de um impulso para uma fuga a si próprio, mas para dentro da caverna, isto é, para o seu próprio interior.
Contudo, a sua fragilidade, dir-se-ia inusitada, foge à nossa natural compreensão. Apesar de se sentir inadequado e incapaz para a sua função, mesmo depois de Deus ter falado com ele e o ter alimentado, de ter resistido a quarenta dias inóspitos de caminhada solitária, Elias foi «esconder-se» dentro de uma caverna.
A psicologia contemporânea, sobretudo a cristã, diria que Elias sofreu uma grande depressão, um grande trauma no seu trabalho, no seu ministério, uma grande decepção.
Elias antecipou o pessimismo, que grandes escritores viriam a usar no futuro. Um pessimismo que só por comparação literária aqui utilizaremos, no que concerne ao poeta Fernando Pessoa, que mostra o sintoma depressivo do heterónimo Álvaro de Campos, que escreveu: "Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada"?
Busco aqui a relação psicológica, salvaguardando obviamente distâncias, porque também houve em Elias a "consciência do desterro" ou do exílio, "a consciência recobrada" da sua finitude e pequenez diante das circunstâncias.
Daí veio a lamentação, que em linguagem de hoje poderia ser assim: "Eu não sou nada! Eu não sou melhor do que meus pais. E melhor que eu morra!".A
O nosso "reduto" é o primeiro e mais simples sentido que encontramos. E isto tanto se aplica a nível do individuo como da comunidade. Neste caso, os sociólogos evangélicos chamaram-lhe a "mentalidade inconsciente de minoria". Os sentimentos de inferioridade podem atingir comunidades cristãs em determinados contextos de minoria, de perseguição ou de tolerância duvidosa. Como a que o director de Novas de Alegria, muito bem referiu no n° de Dezembro último: "Quando a comunidade evangélica em conjunto, por iniciativa da Aliança Evangélica Portuguesa, ou as diversas denominações evangélicas realizam algum evento que congrega milhares de pessoas, os meios de comunicação do Estado primam pela ausência"
Face às circunstâncias, Elias achou-se sozinho, num contexto geográfico, social e religioso. Num contexto também de falta de poder político.
Solitário enfrentou, com o poder, a graça e a inspiração do Espírito de Deus, quase um milhar de profetas adversos à religião e ao sagrado de Israel. Desse
inteiramente para a solidão mais devastadora. Porque Elias foi também um homem de extremos? Talvez.
Mas se por vezes os extremos debilitam, pela visão dificultada pela distância de ver o outro lado, o andar no meio dos embates também. Elias cedeu ao desequilíbrio.
O sentido actual e generalizado da "fuga para a caverna", encontra um paralelo no chamado "complexo de Jonas", que consiste no esquema psicológico da atracção pelo abismo "devorador" e a aspiração por um resgate luminoso, que não deixa de ser um desejo de regresso ao aconchego imbatível da protecção uterina.
Um e outro podem generalizar-se e ser estendidos ao colectivo, à comunidade. O empreender uma fuga para o reduto da minoria, das portas fechadas sobre si própria, tomando aquele complexo do profeta de Nínive com algum exagero, sendo atraídos pela caverna e pelo labirinto, ou a ideia antiga de uma certa clandestinidade a que o ser evangélico esteve sempre ligado, e que em alguns lugares ainda se não descolou da pele do cristão, dito protestante, reformado, evangélico, pentecostal.
Como paradigma, um último censo mostrou muito bem que a população brasileira continua sendo predominantemente cristã. A soma entre católicos e evangélicos gera uma percentagem de 89,3%, isto é, 152 milhões de fiéis dos 170 milhões de habitantes. "Andando pelas ruas, percebemos, a olho nu, que o segmento que mais cresce é o evangélico". Existe uma tendência geral, dos média em particular, que associa, directa e indiscriminadamente, a baixa das taxas católicas com o aumento das evangélicas, especificamente pentecostais, alegando que são os católicos como um todo que migram para o pentecostalismo, o que é ainda uma gota de água no oceano dos mais de 500 milhões que vivem na América do Sul, referem fontes estatísticas e sociológicas da religião do IBGE, em 2002.
Com efeito, as igrejas pentecostais são o ramo evangélico com mais crescimento na América Latina, chegando a constituir entre os 80 e os 85% das diversas comunidades protestantes, lemos no Protestante Digital, n° 204, de 27 de Novembro último.
No pré - consultório realizado no Vaticano, em 24 de Novembro, vários cardeais testemunharam diante de Bento XVI, as suas preocupações nesta área do crescimento não apenas dos pentecostais, mas também do protestantismo globalmente. "Os protestantes em todo o mundo estão a igualar quantitativamente os católicos e para esta igualdade numérica influi o número do ramo pentecostal, que isoladamente ultrapassam os 400 milhões". Este número tem a própria garantia do cardeal alemão Walter Kasper, do conselho pontifício para a unidade dos cristãos, que afirmou explicitamente ao Papa a sua preocupação pelo "crescimento exponencial dos grupos pentecostais que conta hoje em dia com 400

EM PORTUGAL
No que concerne à comunidade evangélica (Igrejas de cunho histórico, ditas tradicionais, advindas da Reforma Protestante (Séc.XVI), com as várias Igrejas pentecostais, Assembleias de Deus e outras), a despeito dos números não exibirem a mesma grandeza do universo evangélico brasileiro, em particular, e da América Latina em geral, ainda assim relativamente começam a exprimir uma realidade apreciável. Tendo em conta que a existência de protestantes e evangélicos no nosso país começa no século XIX, de acordo com os historiadores.
Como fenómeno importado, obviamente, o protestantismo português, poderia seguir um ritmo de crescimento lento, mas um certo inconformismo religioso face ao poder oligárquico e até desajustado da Igreja Católica tem ajudado também no aumento do número de cristãos não -católicos.
Em notas de pesquisa para o estudo disponível dos grupos religiosos minoritários em Portugal, a socióloga Helena Vilaça, estabeleceu que "Protestantes e Evangélicos, no seu conjunto avaliam-se em mais de 250 mil". Da sua comunicação apresentada em 1997 em Toulouse, depreende-se que a autora fala das denominações integradas na Aliança Evangélica Portuguesa.
ÚLTIMA PALAVRA PARA O ATEÍSMO
Não obstante o inconformismo de conhecidos cientistas evolucionistas como o mediático Richard Dawkins, que está "a ver como um pesadelo" um crescimento global da fé, subsistem ainda números preocupantes em nações com elevados índices de ateísmo.
Em algumas delas, a percentagem produz mesmo uma forte incomodidade, aos conhecedores da história das igrejas reformadas nos países nórdicos: Suécia, 8,986,000 habitantes, com 85% de ateus + agnósticos; Dinamarca, 5,413,000, 80%; Noruega, 4,575,000, 72%; Alemanha, 82,425,000, 49%; Grã-Bretanha, 60,271,000, 44%; e,já agora, Israel, com 6,199,000 de população, dos quais 37% afirmam-se ateus ou sem crença, (da revista Enfoque).
Se em termos globais ainda hoje é urgente a actividade missionária cristã evangélica para ganhar para Cristo os chamados "povos não alcançados", é tão ou mais premente voltar a ganhar "cristãos" tradicionais que se vão assumindo como ateus.
Autor do Artigo
João Tomas Parreira

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