18 maio, 2008

A família através dos tempos

Desde que Adão e Eva foram expulsos do Paraíso, a família tem sido a base da sociedade. Em torno dela gravita uma multiplicidade de outras instituições, entre as quais o matrimónio, o noivado, o namoro, etc. Cada instituição possui uma autonomia própria e pode ser considerada isoladamente. Mas para se chegar a uma compreensão exaustiva da sua função, a família deve ser analisada como parte de uma organização social, em que se insere o conjunto orgânico da cultura.
Cada sugestão, cada interpretação, cada acção do simples indivíduo, embora nova. original ou importante, estaria destinada a perder-se ou a apagar-se. se não fosse de algum modo apropriada pela colectividade.
Um processo dinâmico análogo caracteriza todos os elementos da cultura. Tudo o que se disser a este respeito do indivíduo, aplica--se em grande parte à comunidade. Por meio dos seus valores interpretados e das próprias instituições, ela actua e especifica-se em diversos níveis do viver humano, dando forma às culturas particulares.
O QUE E A FAMÍLIA?
A família surge do matrimónio, isto é da união de dois indivíduos de sexo oposto que se associam para viverem juntamente a vida, criarem os filhos e conduzi-los para a participação autónoma na cultura e na sociedade. O matrimónio é o reconhecimento social dos factos sexuais mediante o qual o homem se divide em macho e fêmea, mutuamente atraídos na relação sexual necessária para a geração e continuidade da espécie e o mecanismo para a legitimação dos filhos. A imagem da família é mutável pela multiplicidade das relações que se criam no seu interior; os noivos de hoje serão os progenitores, pai e mãe. de amanhã: em seguida tornar-se-ão sogros, depois avós. A comunidade -família surge e desenvolve-se através de um processo cíclico, renovando-se com o renovar dos membros que nela entram por nascimento ou adopção.
O parentesco mergulha as suas raízes no ordenamento da natureza humana. Trata-se de uma realidade natural elementar, que não se pode iludir ou anular, mas que o homem pode regular com normas e para fins sociais. As relações que. de facto, derivam da simples relação sexual entre dois indivíduos vão além do limite de uma escolha recíproca; tocam e interessam aos grupos a que os indivíduos singulares se encontram, de algum modo. associados, e incluem, em cada caso. a geração que nasce daquela relação.
A necessidade física de cooperação, a necessidade psicológica de identidade e de pertença, são impulsos primordiais que levam a valorizar a associação heterossexual dos indivíduos para os ordenar em formas associativas e múltiplas. Essas formas associativas, constituem assim o parentesco. Tratam-se de relações basilares, não só pelo seu carácter natural, mas porque estão na base do convívio humano e sugerem os pilares para o ordenamento da sociedade. É assim que desde o início é considerada a família. Contudo, a sociedade mostrou profundas mudanças que, consequentemente, alteraram a importância da família.
A FAMÍLIA EM REVOLUÇÃO
Até à Revolução Industrial — e falemos apenas na sociedade ocidental, já que é nela que vivemos — a família era constituída por um homem, o pai. que caçava ou trabalhava para sustentar a família; por uma mulher, a mãe. que tratava da casa e dos filhos; e os próprios filhos, que depois de crescerem, davam continuidade à espécie, formando as suas próprias famílias. Depois da Revolução Industrial, o panorama muda. A mulher começa a ter que sair para trabalhar como os homens. O homem deixa de ter como função na família, a de sustentar a sua família sozinho, e passa a ter a mulher como ajudadora nesse papel.
É claro que numa cultura habituada a ter o homem como principal interveniente junto à sociedade, no campo laboral, económico e social, a mulher vai ser discriminada, e apesar de necessária, vai ter direitos reduzidos num mundo de homens. Nas sociedades ditas tribais, o papel do homem e o da mulher encontram-se bem definidos, tendo um papel complementar. Devemos, para isso. recordar que a sua economia é bastante rudimentar e que talvez, por isso, a desvalorização da mulher seja algo que nem preocupe essas sociedades. Na nossa sociedade já não é tanto assim.
Depois de muitos anos. as mulheres da nossa cultura ocidental começam a clamar pelos seus direitos de igualdade, como uma minoria no meio de uma cultura machista. Nos dias de hoje é frequente assistirmos a demonstrações da busca dessa igualdade de direitos. As mulheres passam a reivindicar iguais oportunidades de emprego, iguais salários, igual distribuição das tarefas domésticas entre marido e mulher, etc.
Estas justas reivindicações levam mesmo os governos dos vários países a introduzirem novas leis. para que as mulheres não sejam prejudicadas. Mas, apesar de o grupo feminista que se levanta desde a década de 60 reivindicar apenas a igualdade, outros valores se levantam em prol desta causa.
A FAMÍLIA ENTRE O MACHISMO E O FEMINISMO
Podem parecer duas causas da "moda", mas infelizmente constituem duas duras realidades. Os dois sexos, criados por Deus para viverem em perfeita harmonia, encontram-se neste momento como inimigos. Machistas contra feministas, numa sociedade onde a família vai perdendo o seu valor de referência e de centro da sociedade.
O movimento feminista surge nos anos 60, década propícia à busca da igualdade de tudo e de todos, à idealização de um planeta sem fronteiras sociais, políticas, raciais, ideológicas e. claro, sexuais. A mulher deixa de se calar perante inúmeras injustiças que a própria cultura considerava normal, como o assédio sexual, como a violação e outras atitudes que conotam a mulher como simples objecto sexual e inferior ao homem. Começa por dizer não à passividade social, sexual e cultural, por se querer defender daquele que. por natureza, é mais forte do que ela. aprendendo truques de autodefesa e protecção física. Contudo, tal movimento chega a extremismos: A consequência é opor totalmente a mulher ao homem, colocando-o como principal inimigo. Frases escolhidas pelas adeptas incondicionais do feminismo: "Eles só querem sexo" ou "Se os homens saíssem todos da Terra, eu não sentiria minimamente a sua falta".
Que consequências isto trará para a família? A resposta é simples, mas bastante assustadora: A família deixa de ser o ponto de referência cultural para a geração vindoura, passando a ser o primeiro "campo de batalha" onde homens e mulheres se confrontam. Os filhos serão sempre potenciais seguidores das teorias dos pais, logo potenciais fanáticos de uma das duas causas — machismo ou feminismo. A família passará a ser apenas a junção temporária de um homem e de uma mulher, que num momento de esquecimento das suas posições, se juntam e dão origem a mais um ser.
POR FIM...
Este desagregamento progressivo da família, conduz lentamente a nossa sociedade à perda de valores, de ética, de amor, enfim daquelas coisas que nos formam como seres humanos e não como animais. Desde o início, a família constitui o centro da sociedade, funcionando como uma referência para uma cultura comum: com o seu fim, estará ameaçada toda Na nossa existência como comunidade, no verdadeiro sentido da palavra. Cabe-lhe a si fazer as escolhas correctas e avaliar até que ponto é válida a mudança da nossa sociedade e até que ponto será válido aderir a este tipo de movimentos. Afinal, a família é ou não é a nossa referência, a nossa identidade, o que nos prepara para a vida em sociedade? Afinal, o que seríamos sem ela?
Afinal, a família é ou não é a nossa referência, a nossa identidade, o que nos prepara para a vida em sociedade? Afinal, o que seríamos sem ela?

Autor do Artigo ;
(In "A Mensagem Baptista")

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