11 maio, 2008

DONS DO ESPÍRITO SANTO.

Ao lermos a passagem de Juizes 6, em que nos é relatada a experiência de, verificamos que as suas primeiras palavras, em reacção à saudação do Anjo do Senhor, mostram que a sua geração não teve as mesmas experiências que gerações anteriores. Enquanto que os seus antepassados experimentaram as maravilhas de Deus, ele e os seus contemporâneos apenas ouviram falar das grandezas do Altíssimo, mas não tiveram oportunidade de as experimentar. Ele questiona: "...se o Senhor é connosco, por que tudo nos sobreveio? E onde estão todas as Suas maravilhas que nossos pais nos contaram?.." Por outras palavras: "Os nossos pais contaram-nos acerca das maravilhas de Deus, mas nós próprios não as temos experimentado..." Isto faz-nos pensar que apesar de ser muito importante partilhar com os outros acerca das maravilhas de Deus, o "contar" não chega. É fundamental criar as condições para que em cada geração, cada filho de Deus em particular possa experimentar as maravilhas da Sua presença.
0 Deus que tinha trabalhado com os antepassados de Gideão, queria também trabalhar, agora, com o Seu povo e com este israelita em particular, o que para ele foi uma enorme surpresa. Gideão não percebia que Deus não Se manifestava apenas às grandes figuras do passado, mas que até um insignificante membro de uma insignificante família podia ser visitado por Deus. Porquê? Porque o mérito não está naquele que recebe a visita, mas naquele que Se revela.
Certo dia fizeram saber a que dois homens entre o povo profetizavam, pois o Espírito Santo havia repousado sobre eles. Josué queria que Moisés os proibisse, mas ele respondeu: "...tomara que todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o Seu Espírito" (Nm 11:29). Moisés não queria o exclusivo da manifestação divina. Ele desejava que se concretizasse aquilo que veio a ser realidade no dia de Pentecostes. E essa é, de facto, a atitude certa por parte de quem lidera o povo que pertence a Deus: incentivar cada discípulo em particular a experimentar pessoalmente a acção do Espírito Santo em suas vidas.
É motivo de grande alegria ver os filhos a crescer. Gostamos que eles gostem de nós, mas também é bom vê-los a desenvolverem as suas capacidades, a conseguirem resolver os seus problemas e a desempenharem as suas tarefas com maior autonomia. O crescimento espiritual do filho de Deus não significa independência, mas significa que o crente coloca cada vez mais a sua atenção e confiança no próprio Deus, sem deixar de ter consideração para com os seus pais na fé. É importante que seja cortado o cordão umbilical para o crente vir a descobrir e desenvolver o seu ministério no Corpo de Cristo.
Gideão foi desafiado pelo Anjo do Senhor a avançar, ele próprio, para resolver o problema que ele via a afectar o povo de Israel. Gideão queixou-se que Deus os tinha desamparado e por isso estavam à mercê dos seus adversários. Para ele o Deus do antigamente não era o Deus do presente. Mas o Senhor tinha um plano para a sua vida, plano que passava por deixar-se usar nas mãos de Deus e experimentar o Seu poder. Gideão recebeu uma garantia: Deus estaria com ele para que o Seu propósito fosse concretizado. Apesar da incapacidade de Gideão era com ele que Deus estava a falar e era através dele que Deus queria agir. A responsabilidade de Gideão era disponibilizar-se para Deus e Nele confiar. E como aceitou o desafio divino pôde testemunhar que realmente Deus continuava com o Seu povo.
No Novo Testamento vemos que algo tremendo sucedeu com os apóstolos de Cristo após a Sua ascensão. O Mestre, a Quem viram ensinar e realizar milagres durante cerca de três anos e meio, regressou ao Céu, mas não sem deixar uma promessa: o Consolador viria para ajudá-los a continuar a obra que Jesus tinha começado. Os apóstolos habituaram-se à manifestação sobrenatural do poder de Deus através de Jesus e, depois de serem cheios do Espírito Santo, começaram, eles próprios, a fazer aquilo que anteriormente tinham visto o Mestre realizar. É mais fácil acreditar na operação sobrenatural do poder de Deus quando esta se manifesta no nosso meio e não é apenas um relato na boca dos outros. O Espírito Santo está activo por todo o mundo, mas às vezes parece pouco activo no nosso. O que nos falta é conhecer mais acerca do Seu ministério e aprender a confiar Nele.
"Não quero irmãos que sejais ignorantes..." escreveu . Se é um erro ensinar aos outros heresias, também não é correcto manter as pessoas na ignorância. O apóstolo Paulo por mais de uma vez mencionou que não queria que a Igreja fosse ignorante, por exemplo, a respeito do estado dos crentes que partiram para a eternidade, mas também a respeito dos Dons Espirituais. Ou seja, Jesus proporcionou, como tinha prometido, condições para que a Igreja não ficasse sem instrução. O Espírito Santo iria ensinar à Igreja tudo o que ela precisaria para poder viver de acordo com a vontade de Cristo.
É comum ouvir-se a expressão: "O Espírito Santo é que faz a obra" com referência ao Seu trabalho no coração humano, convencendo, primeiro o incrédulo da sua necessidade de um encontro com Cristo, e depois o crente das mudanças que Deus deseja operar na sua vida. Sem dúvida, tanto no trabalho da conversão, como no trabalho da santificação o mérito está totalmente do lado de Deus. Se não fosse Ele a dar o primeiro passo na nossa direcção e se Ele não agisse em nosso favor nunca alcançaríamos nada do que Deus tem para nos oferece:
Respeitando o nosso livre arbítrio, Deus atrai-nos a Si e cor a trabalhar em nosso ser. Mesmo assim, entendemos que I estamos a desrespeitar a soberania do Espírito Santo quando pregamos a Palavra de Deus, anunciando o Evangelho à que ainda não conhecem a Cristo e também ensinando aos crentes tanto os fundamentos como as profundezas da doutrina cristã. Estamos convencidos que é o nosso dever deixarmo-nos usar por Deus para sermos a Sua voz para cor aqueles que nos escutarem. Assim, compete-nos ensinar a Igreja acerca dos Dons do Espírito Santo, porque é uma pena crentes não conhecerem nem usufruírem daquilo que Deus para nos dar. E o ensino de que falamos não pode ser apenas ^ "teórico" mas tem de ser principalmente "prático". O próprio' apóstolo Paulo usou a expressão "para que todos aprender (ls Co 14:31), o que nos sugere "todos aprendam através da prática" e não aprender apenas através de ouvir ou ver algum fazer.
O que lemos em 1§ aos Coríntios é que o Espírito Santo está interessado em usar todos os membros do corpo de Cristo I edificação do mesmo. A manifestação dos Dons Espirituais r. é, portanto, exclusivo de uma elite, nem pode mesmo servir como instrumento de medição da espiritualidade do povo de] Deus. É óbvio que se limitarmos a acção do Espírito Santo o nosso nível espiritual não é, nem pode ser, muito elevado, I também é correcto afirmar que Ele usa a quem, como e quando * Ele quer pela Sua graça. O mérito da manifestação dos dons espirituais não está naqueles que são usados, mas n'Aquele que usa.
O Espírito Santo está interessado em levar-nos do desconhecimento à revelação, e fazê-lo de uma forma prática As experiências com Deus devem ser vividas pessoalmente. Alegramo-nos com o testemunho de outros e até podemos aprender com eles, mas somos muito mais edificados quando Deus trabalha directamente nas nossas vidas. A questão é que -algumas vezes ficamos com a ideia que Deus só usa uma determinada elite de entre os Seus filhos. Por um lado é sina de humildade porque não nos consideramos dignos de ser usados por Deus para que Ele manifeste a Sua glória. Por outro lado é sinal de comodismo, porque nos acomodamos com a ideia e não nos abrimos para a obra que Deus quer fazer através de nos. Talvez se tenha criado um conceito de hierarquia na Igreja de Cristo que, apesar de ter razão se ser em determinadas áreas de responsabilidade, não corresponde totalmente à verdade e acaba por impedir que cada crente seja um verdadeiro sacerdote, com todos os privilégios e responsabilidades que esse ministério acarreta.
Jesus disse que os sinais seguiriam os que cressem, não dando a entender que apenas uns poucos desse grupo seriam usados por Si para alcançar os seus contemporâneos. Se todos os crentes são testemunhas de Cristo e a todos compete pregar o Evangelho a toda a criatura, então todos precisam estar equipados com o poder do Espírito Santo para desempenhar fielmente a sua missão. Os dons do Espírito Santo foram essenciais no surgimento da Igreja e continuam a estar disponíveis e a ser necessários no século XXI.
Somos o corpo de Cristo , e isso significa também que Ele nos pode e nos quer usar para literalmente chegar aos outros. Constantemente é questionada a existência de Deus. Apesar de existirem inúmeras evidências da existência do Criador, os corações endurecidos encontram sempre argumentos para contrariar tais testemunhos. Jesus Cristo é a maior evidência da existência de Deus, pois Ele é o próprio Deus em forma humana. No entanto, ao lermos os Evangelhos verificamos que, apesar da Sua natureza humana incontaminada, apesar de em circunstância alguma Lhe ter sido atribuída qualquer falha pecaminosa (até no Seu julgamento e crucificação Ele foi declarado inocente), Jesus, apesar de todas as Suas boas qualidades, não foi reconhecido como Deus senão por aqueles que abriram seus corações e mentes para a acção do Espírito Santo em suas vidas. Com isto quero dizer que não há argumento ou evidência suficientemente capaz de convencer aquele que não quiser ser convencido. Mesmo diante de milagres que desafiam a lógica humana, o ser humano pode, e infelizmente algumas vezes assim o faz, escolher não acreditar em Deus nem colocar Nele toda a sua confiança. Mas quem assim procede, um dia comparecerá diante do Deus feito homem e não terá argumentos para justificar a sua incredulidade.
A melhor maneira de "provar" a existência de Deus não é usar argumentos teológicos, apologéticos ou filosóficos (que, sem sombra de duvida, tem uma grande utilidade), mas usar o argumento de uma vida transformada por Deus, cheia do Espírito Santo e disponível para ser de bênção para o semelhante. O que a nossa sociedade mais necessita é de discípulos de Cristo, verdadeiros filhos de Deus, sinceros e humildes que se deixam moldar por Ele e dão fruto que beneficia aqueles que estão à sua volta.
Nestes , neste primeiro século (e talvez o único) do terceiro milénio, o ser humano anda em busca de algo ou alguém que o preencha e satisfaça, algo ou alguém que o ajude a encontrar resposta para as grandes questões da sua existência. Sabemos, por experiência própria, que esse Alguém é o Deus trino auto-revelado na Bíblia Sagrada. E o grande desafio que temos como discípulos de Cristo nesta geração é o de tornarmos Deus evidente, Deus presente para com o nosso semelhante.
Gideão perguntava: "Se o Senhor é connosco...?" E nós temos absoluta certeza que Deus é mesmo connosco, porque Jesus é o Emanuel, Deus connosco, Deus com a humanidade, Deus a habitar em nós. Se nós deixarmos que o Espírito Santo nos faça entender a profundeza desta realidade, então começaremos a ter um outro conceito acerca de nós próprios e do que Deus quer fazer connosco e através de nós. E uma coisa sabemos: sem Ele nada podemos fazer; com Ele somos mais do que vencedores! Sem Ele, sem a Sua presença, somos um potencial inexplorado. Com Ele, em Suas mãos, podemos fazer a diferença no mundo em que vivemos.
Creio que Deus está a contender connosco para nos consagrarmos inteiramente a Ele, de modo a que possamos experimentar pessoalmente, e levar outros a experimentarem também a realidade da existência de Deus em suas vidas.
É verdade que Deus não precisa de nós para concretizar nenhum dos Seus planos, mas, mesmo assim, entendeu usar-nos para sermos a Sua voz, as Suas mãos, os membros do corpo de Cristo, através do qual Ele toca nas vidas de outros seres humanos. Há uma obra que Ele faz, invisível e subtil, a qual nos é completamente alheia, mas há outra que Ele decidiu e deseja fazer através de nós por meio dos dons espirituais. Se os Seus servos são a voz de Deus para um mundo sem conhecimento da verdade, então também podemos ser as Suas mãos, através das quais Deus vai, literalmente, tocar naqueles com quem nos relacionamos. O Espírito Santo concede os Seus dons para que através de nós, outros ouçam, vejam e sintam a manifestação real da presença de Deus e sejam ou transformados ou responsabilizados através da acção sobrenatural do Todo-Poderoso.
Autor do Artigo :
Miguel Matias

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