15 maio, 2008

CÂNTICOS NA PRISÃO

SACRIFÍCIO DE LOUVOR
«E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam». (Actos 16:25)
TODOS OS HINOS CRISTÃOS PRIMITIVOS APONTAVAM SEMPRE PARA A CRISTOLOGIA.

Nesta narrativa interactiva, porque designa apenas numa frase uma pluralidade de acontecimentos, sobretudo uma prática comum aos cristãos - o Louvor -, Lucas dá-nos algo mais que uma fórmula litúrgica, no que concerne aos hinos que os apóstolos entoavam. Estudiosos afirmam até que tais hinos não pertenciam aos salmos do Hallel. Assim, ocorre-nos perguntar que cânticos seriam?
No nosso trecho bíblico, o apóstolo Paulo assumiu como praxis pessoal, nos calabouços sombrios e húmidos de uma prisão macedónia, o que recomendava à Igreja de Éfeso, designadamente o uso de salmos e hinos e cânticos espirituais.
Alguns desses hinos estão no Novo Testamento, encaixados e preservados no Texto Sagrado, sendo que por vezes a linguagem da hino dia cristã tenda a ser difícil de interpretar. Outros, porém, de uma clareza absoluta, pelo seu carácter de catequese, o que era para os cristãos do I Século imprescindível.
Os musicólogos dos vários períodos bíblicos, designaram assim a herança musical do Velho para o Novo Testamento:
- a Era Bíblica, cerca de 2000 a.C. até 100 d.C; - a Era do Cristianismo Primitivo, que foi do ano 100 até à Reforma.
Em qualquer dos casos, os cânticos espirituais tiveram influência no ensino bíblico, no modo de louvar e glorificar Deus, foram pedagógicos e não poucas vezes tiveram um valor psicológico como amparo da Fé no meio das perseguições ou tribulações dos crentes e da Igreja.
Depois dos Salmos e da sua incontornável utilização litúrgica, a Igreja dos Actos dos Apóstolos terá usado o Magnificai, o chamado Cântico de Zacarias, o Nunca Dimitis de Simeão, porque representavam uma primeira! Hino dia conhecida, sem dúvida numa perspectiva do Velho Testamento, mas sempre apontando a Salvação | levantada em Israel para a Humanidade.
Há quem mantenha a afirmação de que o Prólogo Joanino («En arche em o logos...»), na totalidade dos la versículos ou em parte, foi cântico espiritual na Igreja pelo seu conteúdo básico de teologia e cristologia. Era uma resposta inicial às grandes questões cristológicas que então o gnosticismo colocava. «Os primeiros versos são obviamente um poema à maneira dos Estóicos» - refere a Enciclopédia Americana. Diz esta ainda que «o Prólogo apresentou-se sob a forma de um hino, cantado na comunidade joanina antes de estar no início do Evangelho de João».

Mas os grandes (pequenos) hinos das várias igrejas! fundadas pelo Apóstolo Paulo, em particular, e da Igreja Primitiva de um modo geral, estão nas Cartas paulinas.
É curioso até verificarmos que no Novo Testamento grego, que procura até aos nossos dias trazer--nos os manuscritos originais, cada uma das passagens que são esses hinos cristológicos
exibe os mesmos em forma de poesia. Assim tais hinos aparecem, na tradição cristã, desde as
epístolas à tradição oral da Igreja do primeiro século: Filipenses 2:6-11; Colossenses 1:15-20; 1
Timóteo 3:16 até o próprio trecho da Carta aos Romanos 11:33-36. Estes são considerados os principais] Existem, porém, mais, no interior de outras Epístolas paulinas e na I de Pedro.
A própria História Universal, ainda que ligada a aspectos particulares do modo como os primitivos Cristãos eram vistos pelo Império Romano, não deixa de vir testemunhar sobre o uso dos hinos.
Sabe-se que Plínio, o Moço (61-114 d.C), nas Epístolas X, 96, dirigidas a Trajano, elabora um pedido de «instrução a respeito dos cristãos, que se reuniam de manhã para cantar louvores a Cristo». O historiado! romano referia que tais louvores em forma de hino eram dirigidos a «Cristo quase deo».
Todos os hinos cristãos primitivos, seguindo primeiro o Novo Testamento e só depois alguma tradição histórica, apontavam sempre para a Cristologia. Era e é o senhorio universal de Cristo Jesus, a sua essência e origem divinas que neles são cantados. Os hinos eram por assim dizer pedagogia, tinham plasmada parte da doutrina dos apóstolos.
«Cristo Jesus,
que, sendo em forma de Deus,
não teve por usurpação ser igual a Deus.
Mas aniquilou-se a si mesmo (...)
sendo obediente até à morte,
e morte de cruz.» (Filipenses 2:6-11)
Considerado paradigma do hino cristológico, segundo argumentos de tradição oral antigos que saem do Novo Testamento, contém duas estrofes que ensinam ao crente a doutrina do esvaziamento de Cristo e a Sua exaltação. Ao ser entoado, o cristão primitivo comunicava a si próprio e à comunidade o percurso do Filho de Deus desde a eternidade (ser em forma de Deus) até à Cruz (obediente como servo sofredor), depois culminando com a glorificação. Na verdade, é já um clássico que consagra na bibliografia das doutrinas teológicas do NT a que noticia - do grego kenós e kenósis.
«O Filho do seu amor
o qual é a imagem do Deus invisível,
o primogénito de toda a criação» (Colossenses 1:15-20)
Este hino celebra essencialmente o senhorio universal de Cristo. Com este argumento, o cristão primitivo era convidado ao louvor e, em seguida, a considerar o senhorio do Filho de Deus, Senhor da Criação e Mediador da reconciliação.

Crido no mundo, e recebido acima na glória» (I Timóteo 3:16)
Declaração cristã do Século 1, também considerada pelos estudiosos como um cântico do Mistério Cristológico. O seu preâmbulo «Grande é o mistério da piedade» foi uma maneira de se opor à expressão contemporânea «grande é a Diana dos efésios».
Num nível histórico, é legitimo que nos perguntemos que hinos cantavam Paulo e Silas, na prisão. Seria um desses, referenciado acima? Ou outros como os que o próprio apóstolo Paulo transcreve na carta aos Efésios, 5:14, ou o apóstolo Pedro escreve na sua Ia, 2: 22-24. Expondo ambos o que o profeta/poeta Isaías escreveu séculos antes.

Contudo, os comentaristas põem mais empenho no facto dos apóstolos estarem a «gloriar-se no meio da tribulação», mais do que uma preocupação sobre que cânticos seriam esses. Tratava-se de uma lição de vida e do ideal cristão, a alegria por ser achado digno de sofrer por Cristo.
J.N.Darby afirma, no seu comentário ao Livro dos Actos, que «Paulo e Silas cantam, em vez de dormirem na prisão.»
Se cantavam, entoavam hinos, tais cânticos tinham um mensagem, sem dúvida a poesia vertida em teologia

Autor Do Artigo ;

]oão Tomaz Parreira

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