10 junho, 2008

PERGUNTA Nº 131

No meu tempo de estudante era normal os adolescentes delirarem com a banda desenhada. Vivíamos aquelas aventuras onde o irreal se misturava com o bizarro e éramos felizes. Infelizmente, os professores da época “pregavam” contra esse tipo de literatura e os contínuos até tinham ordem para apreender todos os livros de “Mensagens aos Quadradinhos”.
Nunca compreendi essa posição, assim como agora não entendo certas tomadas de posição relativamente ao cinema, à TV e (vejam lá) até aos desenhos animados. Há cristãos que vêem o Diabo e o perigo em todo o lado! Em face disso eu pergunto: Não poderão os adolescentes divertir-se, sonhar com as aventuras mais exóticas e deixar a espiritualidade para mais tarde? Não será melhor deixá-los desenvolver física e psicologicamente antes de entrarem nos circuitos religiosos?

RESPOSTA
Deixar o que é bom para mais tarde... só se for naquelas situações em que teremos forçosamente de passar pelo bom e pelo mau, ou seja, quando temos de comer os dois pratos. Estou a lembrar-me de um determinado cavalheiro que nos restaurantes pedia sempre os restos de comida antes de se sentar a comer um bom bife. Quando lhe perguntaram a razão daquele procedimento, ele respondeu que tinha a bicha solitária e costumava servi-la primeiro, antes de comer ele próprio!
Ora, o nosso caso é completamente diferente. Podemos e devemos escolher, fazer opções; ficar com o que é bom, o melhor e... sem necessidade de comer “o pão que o Diabo amassou”. Não necessitamos de fazer (primeiro) a vontade ao Diabo, antes de obedecer às leis de Deus, a exemplo daquele senhor que dava primeiro de comer à bicha solitária! Não! Podemos fazer logo a vontade de Deus, o que equivale a regalarmo-nos com um bom prato de comida espiritual e até da outra (física) também!
Adiar a espiritualidade para mais tarde não me parece uma excelente ideia. Nós temos a obrigação de ensinar aos nossos filhos o que é bom para eles. A Bíblia diz: “Instrui o menino no caminho em que deve andar e até quando envelhecer, não se desviará dele” (Prov. 22:6).
Deixar uma criança, ou um adolescente, andar de qualquer maneira e por qualquer lado é extremamente perigoso. Poderá acontecer de os mesmos enveredarem por caminhos muito maus, envolverem-se em processos irreversíveis... sem possibilidade de retorno. Já dizia Edsel Murphy: “É mais fácil entrar nas situações do que sair delas”.
Sobre a banda desenhada que, segundo alguns entendidos, seria como que uma continuação da literatura de cordel, perguntei em 1956 a uma professora o motivo da sua rejeição. Resposta da docente: “É que ali aprende-se tudo menos Português”.
Bem, as coisas mudaram e parece que actualmente poucas pessoas se preocupam com o Português. Aliás, parece que ninguém se preocupa com coisa nenhuma! É que não há comparação possível entre os prejuízos atribuídos às “Mensagens aos Quadradinhos” das décadas de 1950 e 1960 e os malefícios causados pelas modernas tecnologias ao serviço do (mal) êxito e do lucro. E não é apenas a vida espiritual que está em causa, mas também as componentes física, psicológica e emocional!
Determinados técnicos e produtores televisivos tentam obter o êxito de qualquer maneira e feitio, provocando os estímulos mais variados, de modo que as sensações atinjam o clímax, ultrapassando por vezes os limites admissíveis. E isto acontece tanto na amplitude como na frequência. É a piscagem de imagens em número (por segundo) superior ao que o cérebro consegue descodificar... é a mudança brusca de cores com comprimentos de onda muito diferentes... etc. Não importa o prejuízo que isso venha a causar aos telespectadores... o que interessa é o êxito (maléfico) e os folgados lucros que daí possam advir para os produtores de TV.
Como sabemos, o ser humano vive de (e com) sensações e emoções, as quais poderão ser mais ou menos fortes. Para que a nossa vida seja equilibrada, as sensações não deverão ser exageradas, nem na amplitude nem na frequência. Pois os produtores e distribuidores de TV colocam no mercado o pior que se poderia produzir para o nosso equilíbrio emocional, físico e psicológico. A violência e o sexo são levados ao limite e da maneira mais sádica e desconcertante, para mexer com o nosso sistema nervoso. Dizem que “é isso que vende” ou “é o que está a dar”, etc. Se é assim... fico com a sensação de que todos os intervenientes e interessados estão a desfazer-se da própria vida!
Qualquer sensação levada ao limite acaba por insensibilizar o indivíduo. Por exemplo, aqueles que costumam ouvir a música muito alto, quase não ouvem os sons mais baixos, os que bebem em demasia já não sentem nem apreciam a bebida. Isto acontece em muitas outras situações e áreas específicas. Dizia-me há pouco tempo um ex-toxicodependente; “No princípio a droga é boa; depois é um remédio para não sofrermos”.
É possível que as técnicas japonesas estejam bastante desenvolvidas no que se refere à animação. Veja-se o êxito da “Heidi” em finais de dos anos de 1970, depois de vários outros países terem tentado, sem suceso, a colocação da mesma história em animação televisiva. Pois agora os desenhistas de animação japoneses conhecem bem o vocábulo “SHIGUEKI”, ou seja, as técnicas hipnóticas para aumentar a identificação do telespectador, provocando um forte estímulo visual que prende a sua atenção. Levam ao rubro a emoção das pessoas mediante o desenrolar da história e aí, quando a atenção e a concentração são máximas, provocam mudanças sucessivas de imagens, fenómeno esse designado por “PAKA-PAKA” (pisca-pisca) de luzes de determinadas cores, piscando a velocidade taquiscocópica-subliminar. Tanto a mudança de imagens como a mudança de cores são tão rápidas que produzem o efeito “CLUTTER”, ou seja, uma overdose de estímulos sensitivos. Nessa altura o cérebro dá “TILT” (espécie de curto-circuito) por não conseguir dscodificar aquilo que recebe!
Digamos que os desenhistas e produtores japoneses conseguiram os seus objectivos com os desenhos animados “POKEMON” em Dezembro de 1997 ao “enviarem” para o hospital centenas de crianças e adolescentes com sintomas de “EPILEPSIA FOTOSSENSÍVEL”. Isto, não contando com os milhares de estudantes que faltaram às aulas nos dias seguintes à transmissão televisiva. Curiosamente, quando os telejornais de Tóquio explicaram o fenómeno, mostrando imagens... nova onda de internamentos surgiu!
Há situações em que o cérebro não consegue descodificar as emissões que recebe e outras em que as descodifica de um modo errado. O fenómeno “ESTROBOSCÓPIO”, onde ficamos com a sensação que as rodas de uma carroça estão a andar em sentido contrário, explica-se pela sucessão de imagens sobrepostas. Como em cada momento o raio (da roda) se aproxima da posição do anterior... nós ficamos com a sensação que é o mesmo raio (porque são iguais) que estará a andar para trás, parado ou a andar devagar para a frente, conforme os casos.
Estamos limitados em tudo e o nosso cérebro não é excepção. E pior do que descodificar erradamente os fenómenos é não conseguir descodificá-los quando há uma concentração máxima, o que provoca o referido “TILT” (curto-circuito). Não convém atingir os nossos limites e muito menos ultrapassá-los. A tecnologia subliminar consiste em passar mensagens rápidas, não perceptíveis na ocasião, mas que ficarão registadas para influências e decisões posteriores.
Certamente que a adolescência é uma época fantástica na nossa vida, em que se procuram sensações diversas e em que se investiga o desconhecido. Porém, como “o homem é lobo do próprio homem”, devemos ter muito cuidado com todas as coisas.
Li há mitos anos que um determinado criminoso matava as suas vítimas no cinema. Quando as cenas estavam muito movimentadas, excitantes e emotivas, o assassino espetava um arame num dos olhos da vítima até atingir o cérebro! Fiquei arrepiado só de ler essa descrição, mas agora eu pergunto se não estarão a fazer o mesmo na animação da TV? Quando a animação está ao rubro não é aí que funciona o “PAKA-PAKA” ou piscagem em frequências superiores ao admissível? Não quererão os produtores atingir o nosso cérebro?
Para salvaguardar a saúde dos telespectadores, em Inglaterra, não é permitido piscar mais de 3 imagens por segundo. Pois, o “POKEMON”, apresentado em Tóquio em 1997, chegou a piscar 54 vezes em cinco segundos, o que dá uma média de 10.8 imagens por segundo! E a rápida mudança das cores diferenciadas em comprimento de onda também funciona para a agressão do nosso cérebro e da nossa vida física!
Naturalmente que os episódios do “POKEMON” que causaram problemas nas crianças e adolescentes de Tóquio não foram comprados pela distribuidora dos desenhos animados nos Estados Unidos. Porém, nada nos garante que em qualquer lado, e a qualquer hora, outras entidades ou até as mesmas, não produzam coisa igual ou pior!
Podemos ter em casa um “canhão” inimigo para agredir, ferir e matar. Como alguém disse: “Aparentemente, o canhão de raios catódicos da televisão pode vir a ser empregado como um canhão de guerra, não apenas de Guerra Psicológica, mas também de Guerra Psiquiátrica com efeitos fisiológicos”.
Para terminar, só queria dizer que não são apenas prejuízos de índole espiritual que estão em causa, mas também a parte física e psicológica. É verdade que o Diabo não vem senão a matar, roubar e a destruir, mas Jesus deseja dar vida e vida com abundância. Não apenas vida espiritual, que é a mais importante, mas também vida em todas as outras vertentes!

Autor do Artigo;

Agostinho Soares

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