05 junho, 2008

JESUS CRISTO É DEUS?

Uma das perguntas que quase todos os anos faço nas minhas aulas teológicas é se Jesus é Deus ou se Deus é Jesus. Naturalmente que a resposta correcta, segundo a minha leitura bíblica, é que Jesus é Deus e Deus não é Jesus somente, mas sim três Pessoas distintas. O Pai, O Filho e o Espírito Santo compõem a Trindade Divina. Para melhor compreendermos esta parte poderíamos apresentar um exemplo terreno, embora muito pobre, porque as coisas celestiais nada têm a ver com as terrenas. Por exemplo, uma família terrena em que o pai é Soares, a esposa é Soares e os filhos são Soares e a neta é Soares. Estará correcto dizer que cada um é Soares mas incorrecto dizer que Soares é um deles.
Jesus é Deus, assim como o Pai e o Espírito Santo. Mas Jesus dirigia-se a Deus chamando-lhe o quê? Pai ou Deus?
De facto, Jesus na cruz do Calvário fez a seguinte interrogação: “Eli, Eli, lamá sabactaní; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mat. 27:46) Todavia, também disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Luc. 23:34) e “Pai, nas Tuas mãos entrego o meu Espírito” (Luc. 23:46).
Através dos Evangelhos nós vemos que Jesus dirigiu-Se à Primeira Pessoa da Trindade Divina chamando-Lhe Pai ou chamando-Lhe Deus. São expressões correctas porque o Pai é Deus. Porém, não é apenas o Filho que se dirige ao Pai desta maneira. O Pai também Se dirige a Jesus chamando-Lhe Deus (Sal. 45:6) e que o autor da Epístola aos hebreus realça do seguinte modo: "Mas do Filho, diz: Ó Deus, o Teu trono subsiste pelos séculos; ceptro de equidade é o ceptro do Teu reino” (Heb. 1:8).
Alguém poderá argumentar que Deus é apenas uma Pessoa e que a palavra “Trindade” não aparece na Bíblia. Eu diria que não é necessário mencionar essa mesma palavra, uma vez que o assunto está por demais evidente nas Sagradas Escrituras. Eloím (um dos nomes de Deus) é plural e o Senhor Deus falava sempre no plural. Eis alguns exemplos: “Façamos...” (Gen 1:26) , “Eis que o homem é como um de nós...” (Gen 3:22). O Novo Testamento reforça a Trindade Divina, principalmente quando Jesus ordena que as pessoas sejam baptizadas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mat. 28:20).
A Trindade Divina precisará tanto de ser explicada como a existência de Deus. A Bíblia faz tanto uma coisa como a outra, isto é, não explica. A Bíblia não explica a existência de Deus porque o assunto está evidente; é assim! Deus existe, manifesta-se aos humanos e a Bíblia regista essas manifestações! A Trindade Divina também está bem patente diante daqueles que lêem a Bíblia.
A Segunda Pessoa da Trindade Divina, Jesus Cristo, encarnou, fez-Se homem e habitou entre nós. Logicamente, teria de estar submisso a Deus, neste caso ao Pai, que continuou no trono. Não fazia sentido se fosse de outro modo. Até para nós, seres humanos, as coisas estão evidentes. Se os homens devem estar todos submissos a Deus, Jesus Cristo, como homem, também deveria estar! Aliás, Ele veio ensinar-nos isso mesmo.
Possuímos algumas capacidades para entender, de certo modo, a submissão e humilhação de Jesus Cristo, fazendo-Se homem, apesar de as coisas espirituais e eternas em nada se assemelharem às terrenas e temporais. Vamos considerar, por exemplo, que numa determinada reunião, seja uma assembleia geral de qualquer associação, em que um dos elementos da mesa (ou presidência) pretende fazer uma intervenção de fundo. Não terá esse elemento de deixar temporariamente a mesa (ou presidência), tomar o lugar de um simples participante ou associado e sujeitar-se às directrizes da mesa ou presidência? Entendemos bem esta situação terrena e não compreendemos a humilhação de Jesus ao fazer-Se homem?
No vasto conjunto de exemplos simples e humanos poderíamos ainda registar, por exemplo, uma empresa em que o filho do empresário (ou patrão) é empregado e tem de sujeitar-se às regras em vigor. Talvez um outro caso em que um dos sócios da firma trabalha na mesma e submete-se às determinações ou directrizes previamente estabelecidas. Ainda poderíamos acrescentar que já vários príncipes serviram nas forças armadas dos seus próprios países ou reinos e tiveram de respeitar as hierarquias e obedecer às normas estabelecidas pela coroa!
Naturalmente que qualquer exemplo citado peca por defeito. Até o Senhor Jesus, para dar-nos uma ideia da Eternidade, teve necessidade de contar não uma, mas várias parábolas. Só assim, em face de toda essa informação poderemos fazer uma ideia do que é a vida no além-túmulo.
Jesus Cristo veio à Terra, fez-se homem e cumpriu tudo como os homens deveriam cumprir a fim de agradar a Deus. Até foi baptizado nas águas, como nós devemos fazer, embora para Ele não fosse necessário. João Baptista estava certo quando disse: “Eu é que preciso de ser baptizado por Ti e vens Tu a mim?” (Mat. 3:14) Constituiu um enorme privilégio baptizar o Senhor Jesus, apesar de ser algo de que Ele não precisaria. Mas Deus tem outras razões que nós desconhecemos.
Jesus Cristo foi o exemplo máximo! A esse respeito ninguém poderá dizer, com razão, de que não temos padrão a seguir, ou que não é possível fazer as coisas como Deus ordena. Nada disso! Seguir o Senhor Deus é possível e temos um Padrão, um símbolo, Jesus Cristo, o qual não disse apenas como era, mas exemplificou fazendo!
Alguém dirá, e com razão, que nós somos fracos e não conseguimos fazer exactamente as coisas como Jesus fez, apesar de possuirmos informações e exemplificações suficientes. Pois foi por essas nossas fraquezas que Jesus morreu. Assim, todo aquele “deficit” que vai entre o nosso procedimento e a perfeição de Jesus é contabilizado na conta do Calvário e pago pelo cheque em branco que o nosso Salvador passou a nosso favor.
Na Terra, Jesus procedeu exactamente como um perfeito homem de Deus. Exceptuando os milagres, que Ele fez como Deus, toda a Sua vida, comportamento, postura, oração e vivência eram próprias de um homem que segue o Senhor Deus. Porém, Jesus explicou bem Quem era e o que veio cá fazer! Não só através de milagres mas das palavras. Por exemplo: “Eu e o Pai somos um” (João 10:30), “Quem vê a mim, vê o Pai” (João 14:9) e “Ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:9).
Jesus Cristo deu-nos bons exemplos do homem espiritual, mas explicou que era Deus entre nós, o Emanuel, que significa Deus connosco. Não foi apenas um mortal que viveu uma vida devota a Deus e depois alguém se lembrou de o promover a Deus! Não é o caso de Confúcio, que nunca se apresentou como divindade nem filho de qualquer deus mitológico, embora os seus seguidores o classificassem, mais tarde, como (mais) um deus! Nem a situação de Buda que afirmava ter começado de baixo para chegar a cima, atingindo o tal estado de pureza, santidade e perfeição! Não! Jesus Cristo veio de “cima” para a Terra onde Se apresentou e identificou perfeitamente.
Alguns líderes religiosos, fundadores de religiões, afirmaram haver recebido revelação do além. Jesus Cristo veio do “Além” com toda a informação necessária e suficiente para os humanos!
Maomé afirmava ter recebido uma comunicação do anjo Gabriel e a partir daí considerou-se profeta e foi-lhe atribuído um certo estatuto e uma certa importância. Jesus Cristo é o Senhor de todas as coisas e pessoas, incluindo os anjos e o próprio Gabriel! Enquanto Gabriel teria dado ordens a Maomé, segundo ele afirmou, Jesus é que dá ordens aos anjos e enviou profetas no passado, muitos dos quais falaram da Sua vinda a este mundo.
O fenómeno Jesus Cristo situa-se entre o extremismo da crendice e o cepticismo racional. Entre aqueles que acreditam em tudo e os que não acreditam em nada. Eu continuo a acreditar em milagres, mas somente feitos pelo Senhor Criador de todas as coisas que enviou o Seu Bendito Filho ao mundo para salvar todo aquele que crê. Não acredito em milagres realizados em qualquer lado, por qualquer pessoa e de qualquer maneira. Mas acredito que, se Deus viesse ao mundo, como veio na realidade, teria de os fazer aqui entre nós!
Jesus Cristo fez milagres, as pessoas viram-nos e tomaram conhecimento da sua ressurreição. Mas ainda há quem não acredite em nada que saia fora da normalidade. Hume no seu argumento conclui que só estamos certos quando acreditamos em experiências que são normais para o homem comum. Às vezes o não acreditar não resulta de um exame das evidências nem dos relatos fidedignos, mas das perspectivas filosóficas. Outras vezes depende do gosto das pessoas. Como afirmou o ateu Fiedrich Nietzsche: “É o nosso gosto que decide contra o Cristianismo; não são os nossos argumentos”.
Acerca do Argumento de Hume eu tenho a contrapor o seguinte: Há mentiras lógicas e verdades ilógicas. Poderemos ser enganados acerca de algo que é normal acontecer (mas daquela vez não aconteceu) ou em aspectos que fogem à normalidade, mas acontecem!
Acreditar somente em experiências que são normais para o homem comum exclui, à partida, os progressos tecnológicos e descobertas científicas. Segundo o Argumento de Hume, as descobertas científicas começam por ser mentira; não apenas antes de se efectuarem mas enquanto não se vulgarizarem.
O argumento de Hume exclui os milagres. Se não são fenómenos praticados pelo comum dos mortais não podem ter acontecido. Ora, se o filho de Deus viesse à Terra, seria de prever que fizesse algo diferente do que é normal fazer-se. O Deus entre nós teria que ser perfeito, tanto nos moldes bíblicos como humanos. Teria de saber tudo, nunca Se enganar e nunca mentir, para além de resolver todas as situações, mesmo aquelas que mais ninguém pudesse solucionar.
Agora, à distância de quase dois mil anos, compreendo perfeitamente que o Deus entre nós, ou Deus connosco (Emanuel) deveria poder acalmar tempestades, andar por cima das águas do mar, transformar a água em vinho, multiplicar os pães e os peixes, expulsar demónios, curar enfermos e ressuscitar os mortos. Aceito que isso deveria ser executado para nosso esclarecimento. E, partindo do princípio correcto de que Deus não é exibicionista, concluo que Ele iria fazer esses milagres quando fossem absolutamente necessários, como realmente aconteceu.
É verdade que Jesus Cristo ressuscitou pelo Seu poder e isso demonstra claramente que Ele é o Filho de Deus, como havia afirmado. A ressurreição de Cristo é tão importante que algumas pessoas têm tendência a classificar como acessório tudo o que Ele realizou anteriormente.
Eu não partilho dessa ideia. Penso que todas as coisas realizadas por Jesus são extremamente importantes a fim de prepararem as pessoas para a Sua morte em nosso lugar e posterior ressurreição. Digamos que a ressurreição de Cristo constituiu o culminar de toda a Sua actividade miraculosa, demonstrativa da Sua Divindade. Foi necessário que Jesus realizasse todos aqueles milagres e ressuscitasse no fim. Não somente ressuscitar, mas sobretudo dizer antecipadamente que o iria fazer. Assim, já havia uma certa preparação e atenção para que os factos fossem devidamente analisados e registados.
Apesar de todos os sinais, prodígios e avisos do Príncipe da Vida de que iria ressuscitar, os discípulos quase se esqueceram ou quase não acreditaram, embora as autoridades eclesiásticas se lembrassem perfeitamente e tomassem as devidas providências, colocando a guarda romana no Seu túmulo.
O que agora vou dizer poderá parecer quase um disparate. É o seguinte: Dou muitas graças a Deus pelo facto de os discípulos procederem desta maneira, isto é, fugirem quase todos quando Jesus foi preso, para além da fraqueza e incredulidade de alguns. É que assim as coisas ficaram melhor esclarecidas.
Os discípulos não era fanáticos, nem lunáticos. Eram humanos, falíveis e tiveram de comprovar tudo. Até Tomé, que conhecia Jesus, não queria acreditar nos companheiros com quem tinha privado durante o Ministério do Rabi da Galileia. Alguém disse que Tomé, devido ao seu racionalismo e incredulidade, poderia muito bem ter sido formado em Harvard!
Se de alguma coisa os discípulos estavam despidos era de fanatismo, cegueira, crendice e superstições. Inicialmente, eles pareciam mais seguidores do Argumento de Hume do que seguidores do Príncipe da Vida. Mas acabaram por aceitar a realidade, divulgar a mesma e morrer por ela!

Autor do texto bíblicos
Agostinho soares

2 comentários:

Anónimo disse...

Perdoe-me, voltei para dizer-te que a música do blog é linda!

Anónimo disse...

Olá Pedro Aurélio!
Vim retribuir a tua visita e saio encantada com os textos. Gosto de blogues que posso aprender, mas confesso que só li este. Parabéns! Jesus é lindo e filho de Deus! Deus é pai ! Voltarei com mais calma para ler todos, e assim ser edificada.
Um lindo final de semana!
Deus te abençoe!