23 maio, 2008

O carismático Lucas

Exactamente, refiro-me ao autor do Evangelho que tem o seu nome. Lucas, o "médico amado" 0), segundo parece era um gentio convertido, sendo o "único autor humano, não - judeu, de um livro da Bíblia". O seu Evangelho tem algumas características especiais, todavia eu aproveito para dar destaque à "sua ênfase na importância e proeminência do Espírito Santo na vida de Jesus e do Seu povo"
(2)- Esta revista deve defender
hoje e sempre a doutrina bíblica do Espírito Santo e também o falar noutras línguas, como sinal externo, inicial do baptismo no Espírito Santo, a glossolália.
Acredito numa teologia pentecostal e não receio defende-la. Assumo que nestes últimos anos um silêncio tem dominado, entre nós, o desenvolvimento desta verdade. "A teologia pentecostal tem que receber o respeito que se dá ao pensamento luterano, calvinista e wesleyano"
(3). Evidentemente, não deve-mos ficar só por uma teologia pentecostal ou para o pensamento pentecostal, mas sim para uma base sólida da prática pentecostal, carência máxima das nossas igrejas, hoje.
Há dias adquiri um livro e li--o quase dum fôlego. Fiquei triste, no fim. O título do livro atraiu-me; o conteúdo desiludiu-me! O autor do referido livro atreve-se a contrariar a realidade do baptismo no Espírito Santo, e não só. A páginas tantas, sobre o baptismo do Espírito Santo, escreve: "Tal experiência nunca é claramente explicada. É mística" (*).
O pentecostalismo não "é uma aberração que resulta de excessos experimentais; é, além do mais, um avivamento que o século vinte registou". Deixo o autor, que me chocou (como se pode escrever daquele jeito, hoje, e de Bíblia na mão?!), para uma segunda oportunidade.
Há uma actividade do Espírito Santo registada no Evangelho de S. Lucas e Actos dos Apóstolos. Sabemos que Lucas era um "leal cooperador do apóstolo Paulo (2 Tm 4:11; Fim 24; cf. os trechos em Actos na primeira pessoa do plural). Pelos escritos de Lucas, vemos que ele era um escritor culto e hábil, um historiador atento e teólogo inspirado" (5).
Após a ressurreição de Jesus, no primeiro dia de Pentecostes, o Espírito Santo foi derramado sobre os discípulos, com impacto repentino e assombroso quando eles estavam reunidos. Foram vistas línguas de fogo que não se consumiam. Os peregrinos que estavam em Jerusalém ouviram um grupo de provincianos, galileus, adorando a Deus. Cada peregrino escutou aqueles galileus — e isso criou sensação — louvando a Deus na sua língua nativa.
Lucas atribui este insólito procedimento dos discípulos, no dia de Pentecostes, ao facto de que eles estavam "cheios do Espírito Santo" (6). Outros, supostamente, atribuíram aquela efusão à embriaguez (7). Confesso que encontro aqui, nestes "juízes", o mesmo espírito de análise e crítica que encontrei no livro que li.
Como estamos a estudar, ligeiramente, o carismático Lucas, concluímos que a frase "cheios do Espírito Santo", limita-se só aos seus escritos, com excepção de Efésios 5:18. Não só é peculiar em Lucas esta terminologia, senão que também é a descrição que ele emprega mais frequentemente quando fala da actividade do Espírito Santo. Este "teólogo inspirado" refere nove vezes a frase "cheios do Espírito Santo" nos livros de Lucas e Actos. Tais versetos relacionam--se com João, Isabel, Zacarias, os discípulos, Pedro e Paulo, mais do que uma vez (8).
Não resisto a observar. O dom do Espírito Santo dado aos discípulos no dia de Pentecostes não é (não foi) um acontecimento isolado e único. Também, em segundo lugar, ser "cheio do Espírito Santo" é tanto um fenómeno individual como colectivo.
Cinco pessoas, João, Isabel, Zacarias, Pedro e Paulo, são "cheias" em ocasiões específicas. Os discípulos, em Jerusalém e Icónio, experimentaram essa plenitude depois do Pentecostes.
Nesta ordem, e em terceiro lugar, ser "cheio do Espírito" não é uma experiência de "uma vez por todas". Os exemplos de Pedro (9) e Paulo (10) mostram o carácter potencial do dom. Ainda, em quarto lugar, "ser cheio do Espírito" descreve sempre inspiração. O facto de os discípulos, em Icónio, estarem "cheios de alegria e do Espírito Santo" (11) é como que uma excepção aparente, pois na perspectiva de Lucas, e alegria ou gozo é tanto uma questão de inspiração como é a profecia (12).
Lucas identifica o modo de falar que resulta de "ser cheio do Espírito". Numa primeira observação, vemos que Zacarias é "cheio do Espírito" e profetiza (13). Em segundo lugar, Pedro identifica o falar em línguas com profecia (14). Verifiquemos, também, o cântico de Isabel (15) que tem o mesmo carácter profético que a profecia de Zacarias.
Se a frase "ser cheio do Espírito" descreve inspiração profética, então é evidente que, para Lucas, a profecia tem um significado muito amplo.
São descritos por Lucas, como "cheios do Espírito Santo", os sete diáconos (16), Estêvão (17), Barnabé (18) e o Senhor Jesus (19). Directamente associados com a plenitude do "Espírito Santo" estão a sabedoria (20) e a fé (21). O poder também tem uma associação mais indirecta, mas real (22). A sabedoria, a fé e o poder são dotes do Espírito para o serviço.

Autor do Artigo :
TORCATO LOPES

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