16 maio, 2008

A construção da dor

A preservação da memória nada tem de virtual no Museu do Holocausto, em Jerusalém.
A verdade é que a dimensão da tragédia, a construção da dor, o trauma continuado (do Holocausto de seis milhões de judeus), ainda se mantém como uma «depressão» na alma europeia contemporânea
O chamado Yad Vashem é um memorial do povo Judeu aos seus seis milhões de mortos, na Solução Final da Questão Judaica.
O monte onde foi edificado em 1953 e está instalado até hoje o museu "dos heróis e vítimas do holocausto judeu", o Yad Vachem, é uma montanha documental.
Ao designar-se como Monte da Comemoração, sublinha, toponimicamente, não apenas a lembrança do passado, como uma catarse continuada, mas também "o labor para educar os jovens no sentido de que não esqueçam o que sucedeu durante a Segunda Guerra Mundial e a solução final orquestrada por Adolfo Hitler" - afirmou recentemente a chefe da diplomacia israelense, a senhora Tzipi Livni.
RECORDAÇÃO E DEPRESSÃO NA ALMA EUROPEIA
Sem dúvida que recordação é o vocábulo central, cuja semântica toca, psicologicamente, o vazio deixado por seis milhões de mortos, a chama física do lume que ilumina os nomes dos 21 campos de extermínio nazis, a escrita em basalto negro, a crueldade sistematizada num programa de extermínio, os testemunhos de 62 milhões de documentos, as 267.500 fotografias, os milhares de vídeos com a palavra testemunhal de sobreviventes desse período quê escureceu a identidade da Europa.
Tudo isso é o Museu de Holocausto, ao qual foi atribuído no passado mês de Setembro, c prestigiado Prémio Príncipe de Astúrias, na categoria de Concórdia.
Mesmo que não possamos visitá-lo, que façamos apenas uma visita virtual no site www.yadvashem.org, a verdade é que a dimensão da tragédia, a construção da dor, o trauma continuado nos valores e na cultura ocidental, desde as décadas de 30-40 do século passado, se mantém como uma "depressão" na alma europeia contemporânea.
Livros, filmes, documentários passam transversalmente por todo o mundo, e não será hiperbólico falar de "chama eterna" da memória desses factos terríveis, que ganharam uma dimensão trágica - estudada hoje nestes termos - nos domínios da estética, da ética, da biologia e da religião.
E a notícia do Prémio Príncipe de Astúrias atribuído ao museu israelense sublimou tudo o que ao longo destes mais de 60 anos se tem levado ao conhecimento dos homens, a nível planetário. O director da instituição, Avner Shalev, considerou mesmo que tal galardão "é vital à existência deste museu para que as gerações futuras não olvidem o passado e a 16 ! crueldade da Alemanha Nazi."
O que se passou na Europa Central entre 1941-1944, estrutura-se hoje ao nível dos estudos mais do carácter humano, dos não - valores culturais, éticos, morais e religioso dos protagonistas germânicos, e não só, que das políticas vigentes à época na Alemanha e países ocupados. O modo funcionário de matar, nada teve de eventual.
Assim, existem obras de análise profunda e bem documentada sobre «a esquematização das crenças dominantes na Alemanha acerca dos judeus».
Com efeito, os judeus na estrutura do Estado Nazi eram considerados por este, um mal e uma ameaça, o perigo que representavam era incalculável e extremo, alegadamente queriam destruir a Alemanha e o grau da sua malignidade era enorme, por isso tinham que ser eliminados. A atitude ética perante eles, classificava-os "como não humanos, fora do alcance da ordem moral".
A crença dominante quanto aos judeus afirmava que eram "uma ofensa ao sentido da ordem e valores".
Assim, o genocídio perpetrado baseou-se em que os judeus ofendiam a Alemanha e a Europa - eram o Mal -, sendo este o pensamento primário começado por Hitler, já em 1920, quando escreve "Por que somos anti-semitas?". Intencionalidade e funcionalidade deram origem a uma política que teve pouco a ver com religião, embora o anti-semitismo advenha desta. E, no entanto, na história da eliminação dos judeus, dois termos de conteúdo teológico e bíblico dos textos sagrados, ergueram-se e mantêm-se até hoje. Holocausto e Shoah.
HOLOCAUSTO E SHOAH
Vale a pena referir que ambas as palavras, pertencendo ao universo do Velho Testamento, tiveram um sentido para os judeus, na memória posterior aos factos. Já Hitler usaria outro termo, antes dos factos, supressão. Para. isso
recorreria a pactos com o sobrenatural, se fosse preciso, afirmando estar disposto a "unir as nossas forças às do Demónio".
Mas muitos judeus preferem o vocábulo Shoah, que é uma palavra em língua iídiche (dos judeus alemães e do Norte da Europa ), que significa "calamidade", a essoutra mais conhecida, holocausto, que em grego quer dizer "queimar totalmente", porquanto deriva do hebraico bíblico ôlâh.ôlâh A razão, por isso, parece estar no domínio da vergonha teológica. Muitos judeus e até cristãos hoje acreditam que é teologicamente ofensivo sugerir que os judeus da Europa foram um sacrifício a Deus.
A raiz superlativa da prática do holocausto radicava no sacrifício vítimas animais, cabras, novilhos, a vivos sobretudo cordeiros.
Os judeus, perseguidos desde constituição oficial do Cristianismo, século IV, eram já suficientemente animalizados com ataques verbais físicos e tornaram-se sinónimos Demónio. Foram seres "socialmente mortos", durante o período nazi, m não animais.
Embora o "holocausto" fosse desprovido para os nazis de qualquer sentido bíblico, era um perpetração " mono causal, era o assassínio em = derivado do anti-semitismo visceral.
Ao preferirem Shoah, por I conjunto de razões entre elas teológica, os judeus aplicavam a si conceito semântico bíblico do que P sobre o povo de Israel, a calamidade por considerarem teologicamente ofensiva a natureza do significa original de "holocausto".
Uma construção da dor, do exílio morte, de que os hebreus também foram obreiros e que por terceiro sobre eles se abateu, uma calamidade que vinha desde as margens dos rios Babilónia, onde se sentaram choraram, lembrando-se de Sião, aos "assassínios – em – linha - de montagem".

Autor do Artigo :
João Tomaz Parreira

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