29 maio, 2008

A BONDADE DIVINA

Vocábulo bondade significa tantas coisas para tantas pessoas que este breve estudo da bondade divina principia com uma definição. Chegaremos ao significado por intermédio de diferentes sinónimos, saindo de um ponto e voltando a ele por diversos caminhos. Ao declarar a teologia cristã que Deus é bom, isso não é o mesmo que dizer ser Ele justo ou santo. A santidade do Senhor é anunciada do Céu como com vozes de trombetas, ecoando na Terra pelas vozes dos santos e sábios em toda a parte onde Deus Se revelou ao homem. Agora, porém, não estamos a considerar a Sua santidade, mas a Sua bondade. A bondade de Deus é a Sua disposição cordial, benevolente e plena de boa vontade para com os homens. Ele é benigno e sente simpatia por nós. A Sua atitude para com todos os seres morais é sempre aberta, franca e amiga. Pela Sua própria natureza Ele inclina-se a conceder bênçãos, tendo um santo prazer na felicidade do Seu povo. Que o Senhor é bondoso está explícito ou implícito em cada página da Bíblia Sagrada, e essa ideia precisa de ser aceite como parte integrante da fé como é o trono de Deus, constituindo o alicerce de todo o pensamento sadio a respeito do Criador, tão necessário à sanidade moral. Se não aceitássemos a bondade divina estaríamos negando a validez de todo o conceito e julgamento moral. Se Deus não fosse bom era impossível existir distinção entre bondade e crueldade; o Céu poderia ser Inferno, e este poderia vir a ser Céu. A bondade do Criador é a causa de todas as bênçãos que Ele nos concede diariamente. Deus criou-nos pela bondade do Seu coração e redimiu-nos pelo mesmo motivo. A bondade divina (um dos atributos do Criador) tem a Ele mesmo como causa, sendo infinita, perfeita e eterna. Como Deus é imutável, a intensidade da Sua benignidade não sofre variação. Ele nunca foi mais bondoso do que é agora, nem jamais será menos bom. O Senhor não faz acepção de pessoas, mas envia a chuva sobre justos e injustos, e faz brilhar o sol sobre maus e bons. A origem da Sua bondade reside n'Ele mesmo; os que recebem a Sua bondade são Seus beneficiários sem que tenham méritos próprios ou mereçam recompensa. A razão concorda com isso, e a sabedoria moral apressa-se em reconhecer que não pode existir mérito no comportamento humano por melhor e mais pura que a pessoa seja. As nossas expectativas baseiam-se sempre na bondade de Deus. O arrependimento, embora necessário, náo é meritório, mas uma condição para o reconhecimento do dom gracioso do perdão que Deus conhece por Sua bondade. Em si mesmo a oração não é meritória. Não coloca Deus sob obrigação alguma nem faz com que Ele deva algum favor a quem quer que seja. O Senhor ouve a oração porque é bondoso, e não por outro motivo qualquer. A fé não é também meritória; é a simples confiança na bondade divina, e a falta de fé reflecte negativamente sobre o carácter santo de Deus. Toda a perspectiva da humanidade mudaria se pudéssemos compreender que vivemos sob o céu amigo e que o Deus dos céus, embora exaltado em poder e majestade, anseia pela nossa amizade. O pecado, contudo, tornou-nos tímidos como era de esperar. Os anos de rebeldia contra o Criador fizeram crescer em nós um temor que não poderá ser vencido de uma hora para outra. O rebelde aprisionado não entra na presença do rei contra quem lutou e perdeu, por sua própria vontade. Mas se estiver realmente arrependido fará isso, confiando apenas na benignidade do seu senhor, e o passado não pesará contra ele. Meister Eckart anima-nos a lembrar que, mesmo sendo os nossos pecados tão numerosos quanto os de toda a humanidade reunidos, ao voltarmo-nos para Deus, Ele não os leva em conta, mas confia tanto em nós como se nunca houvéssemos pecado. A pessoa que, apesar dos pecados passados, queira com sinceridade reconciliar-se com Deus poderá cautelosamente perguntar: «Se eu me aproximar de Deus, como agirá Ele para comigo? Qual a Sua disposição? Como será Ele?» A resposta é que Ele será exactamente como Cristo. «Quem me vê a mim vê o Pai», esclareceu o Senhor Jesus. Cristo andou sobre a Terra, entre as pessoas, para mostrar-lhes como é Deus, e para tornar conhecida a Sua verdadeira natureza a uma raça repleta de ideias erradas a Seu respeito. Essa foi apenas uma das coisas feitas por Ele enquanto viveu na carne, mas fê-lo com a maior perfeição. Nós aprendemos d'Ele como Deus age em relação às pessoas. Os hipócritas e insinceros irão acha-lo frio e distante, da mesma forma que acharam Jesus. Os penitentes, todavia, verão que Deus é misericordioso; os que se sentem condenados verão n'Ele alguém generoso e bondoso. Mostra-Se amigo dos. tímidos; perdoa aos de espírito humilde; é amável para com os ignorantes, gentil para com os fracos e hospitaleiro para com os estranhos. A recepção que Ele nos fará pode ser determinada pelas nossas próprias atitudes. Embora a bondade de Deus seja uma fonte infinita e transbordante de cordialidade, Ele não força as Suas atenções sobre nós. Se quisermos receber o bem-vindo dado ao filho pródigo, teremos de nos aproximar como fez o pródigo da Parábola; agindo assim, mesmo que os fariseus e legalistas reclamem do lado de fora, haverá uma festa de boas-vindas lá dentro, enquanto o Pai recebe o Seu filho de volta, colocando-o junto ao Seu coração. A grandeza de Deus faz-nos temer, mas a Sua bondade anima-nos a não ter medo d'Ele. Ser temente e não ter receio - eis o paradoxo da fé.
Autor do Artigo ; Novas de Alegria

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