17 maio, 2008

O problema do sofrimento

Sabemos com certeza que as igrejas de Esmirna e Filadélfia eram fiéis (Ap 2:8-11; 3:7-13). Nessas cartas não há uma palavra sequer de crítica negativa a elas. João escreve a Esmirna: "Eu sei as tuas obras, e tribulação e pobreza (mas tu és rico)..." (Ap 2:9). Para Filadélfia ele escreve: 'Tendo pouca força, guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome" (Ap 3:8). Parece que ambas as igrejas eram pequenas: ambas possuíam poucos recursos financeiros: ambas defrontavam um ambiente hostil. Sendo o próprio João judeu, refere-se ao de leve à "sinagoga de Satanás". Tempos procelosos aguardavam ambas as igrejas no futuro.
No entanto, essa aparente desigualdade tem precedentes nas Escrituras Sagradas. No capítulo 11 de Hebreus encontramos uma longa lista de pessoas a quem Deus livrou de males. No versículo 35, contudo, diz o autor da epístola: "Uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição." No livro de Actos, por exemplo , Tiago foi decapitado, enquanto Pedro recebeu livramento.
Nessas e noutras passagens bíblicas verificamos que o sofrimento inclui um componente misterioso, desconhecido. João também presume que o sofrimento constitui parte natural da fé cristã. Ele não questiona o facto de uma igreja sofrer e outra não. Nem mesmo espera que Deus livre Esmirna do sofrimento, mas dá todo o crédito a Deus pela protecção de Filadélfia, que se livra do sofrimento vindouro.
João simplesmente comunica a Esmirna as más notícias: "O Diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida" (Ap 2:10). Transmite boas notícias a Filadélfia: "Também eu te guardarei da hora da tentação que há-de vir sobre todo o mundo" (Ap 3:10). O sofrimento é apenas um facto. A ambas as igrejas o conselho de Cristo é simples. Para Esmirna: "Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida" (Ap 2:10). Para Filadélfia: "Guarda o que tens. para que ninguém tome a tua coroa" (Ap 3:11).
Há diversas aplicações aqui, que não podemos negligenciar no nossos momentos de tribulação. Em primeiro lugar, espere sofrimento. Não se surpreenda, não se sinta traído, não se orgulhe e não se atomize. O sofrimento é uma componente natural da vida cristã. Em segundo lugar, não fique a olhar para outra pessoa, o que ela vai ou não ter de suportar: as comparações neste ou noutro sentido são desmoralizadoras. Em terceiro lugar, reconheça não ser necessário possuir grande fortuna ou grande influência para ser fiel (note que ambas as igrejas tinham escassos recursos); o que se exige é paciência e perseverança
Recorde-se que um dos gomos do fruto do Espírito é a paciência ou longanimidade (Gl 5:22).
Em quarto lugar, lembre-se que um dia todo o sofrimento terminará, e a "segunda morte" (a morte eterna do espírito) não nos tocará. Em quinto lugar, conserve em mente que quando um crente resiste ao sofrimento com fidelidade, Deus é glorificado e honrado. Os sofredores servos de Cristo serão honrados de maneira especial, e receberão um novo nome que "ninguém conhece senão aquele que o recebe". Disse Cristo à igreja de Filadélfia: "A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e e escreverei sobre ele o nome do meu Deus" (Ap 3:12).
Há alguns anos o grande fotógrafo canadense, Yousuf Karsh, enviou-me um álbum de fotografias suas. No papel de embrulho, o oficial da alfândega carimbou as seguintes palavras: "Valor do Conteúdo". Sob esse carimbo estava escrito: "Autografado pelo autor". Dentro, o autógrafo era dirigido a mim. Julguei esse facto muito interessante: se o álbum em si valesse talvez 40 ou 50 dólares, com o autógrafo ele tornou-se muito mais valioso. Somos crentes em Jesus Cristo, pelo que o nosso valor depende do facto de virmos a ser (e sê-lo-emos) autografados pelo Autor.
Eu não compreendo as razões do sofrimento e da perseguição. Não sei por que as igrejas numa parte do mundo sofrem dores e privações terríveis, enquanto outras igrejas, noutros lugares, são ricas e quase isentas de sofrimento. Não sei por que alguns dos jovens evangelistas que se reuniram em Amesterdão, em 1983 e 1986. traziam cicatrizes de queimaduras e pancadas que sofreram por amor de Cristo, enquanto a minha vida tem sido livre desse tipo de perseguição. Não sei por que Corrie ten Boon teve de contemplar a morte da sua irmã num campo de concentração nazista, nem por que Joni Eareck-son Tada ficou paralítica do pescoço para baixo.
É possível que o leitor haja defrontado dores e sofrimentos que não consegue entender. Talvez até se tenha zangado com Deus pelo facto d'Ele haver permitido que isso sucedesse na sua vida, enquanto outras pessoas escaparam a esse tipo de problemas.
Não permita que os ácidos da amargura o corroam por dentro. Em vez disso, aprenda o segredo de confiar em Cristo em todas as circunstâncias. Aprenda a dizer com Paulo: "(...) já aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece" (Fp 4:11-13).
Autor do Artigo ,
BILLY GRAHAM

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